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Paleontologia

Caça farta nos rios dos primeiros amazônidas

Fóssil de tartaruga encontrada em garimpo na bacia do rio Madeira pertencia a uma das maiores espécies já descritas

Ilustração artística de Peltocephalus maturin, convivendo com animais semelhantes às atuais capivaras

Julia Oliveira

Quando os primeiros seres humanos chegaram à Amazônia, é possível que tenham encontrado enormes tartarugas nadando pelas águas da bacia do atual rio Madeira. É nessa época – entre 40 mil e 9 mil anos atrás –, de acordo com datação ainda a ser confirmada, que viveu o animal cuja mandíbula fossilizada foi encontrada em 2010 na região de Porto Velho, Rondônia. O achado, publicado esta semana (13/3) na revista Biology Letters, é empolgante porque condiz com a possibilidade de a atividade humana de caça ter contribuído para a extinção dessa espécie, promovendo uma seleção natural por tartarugas menores – e menos alimentícias.

Entrevista: Max Langer
00:00 / 10:50

“Um animal de grande tamanho se encaixa no que chamamos de megafauna”, explica o paleontólogo Max Langer, do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), coautor do trabalho encabeçado por seu ex-aluno Gabriel Ferreira, hoje na Universidade de Tübingen, Alemanha. “Costumamos falar principalmente de mamíferos, como a preguiça-gigante, o gliptodonte e o mastodonte, que viveram no final do Pleistoceno, início do Holoceno; temos registro também de jabutis e lagartos de grande porte, mas esse animal que descrevemos agora foge do padrão.”

Christina Kyriakouli / Instituto de Pesquisa SenckenbergModelo tridimensional da mandíbula fossilizadaChristina Kyriakouli / Instituto de Pesquisa Senckenberg

Só com a mandíbula, parcialmente preservada, foi possível descrever a nova espécie Peltocephalus maturin, que seria onívora e teria uma carapaça com cerca de 1,80 metro (m) de comprimento, o que a torna uma das cinco maiores tartarugas já descritas. Ela tem parentesco próximo com a tartaruga atual P. dumerilianus, que hoje habita os rios amazônicos, mas não passa de 1 m de comprimento. O nome da nova espécie homenageia a tartaruga-gigante Maturin, personagem criado pelo escritor norte-americano de terror e ficção científica Stephen King.

Langer ressalta que a idade ainda precisará ser detalhada porque as rochas datadas estão abaixo daquelas de onde veio o fóssil. A existência do animal deve ser mais recente, quando possivelmente já havia ocupação humana na região. Esse dado é central para avaliar a hipótese, frequentemente considerada para mamíferos, da extinção causada pelo ser humano.

O fóssil foi encontrado por um garimpeiro, no garimpo Taquaras, quando procurava ouro. Para os paleontólogos, o achado vale muito mais.

Íntegra do texto publicado em versão reduzida na edição impressa, representada no pdf.

Projeto
Explorando a diversidade dos dinossauros do Cretáceo Sul-americano e suas faunas associadas (nº 20/07997-4); Modalidade Projeto Temático; Pesquisador responsável Max Cardoso Langer (USP); Investimento R$ 2.950.269,07.

Artigo científico
FERREIRA, G. S. The latest freshwater giants: A new Peltocephalus (Pleurodira: Podocnemididae) turtle from the Late Pleistocene of the Brazilian Amazon. Biology Letters. v. 20, n. 3. 13 mar. 2024.

 

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