A fim de evitar o agravamento do quadro respiratório de doentes internados com Covid-19, pesquisadores brasileiros correm para desenvolver um novo aparelho de respiração assistida. Com a aparência dos escafandros usados por mergulhadores, o capacete de ventilação não invasiva poderá dispensar o uso do tubo endotraqueal introduzido em pacientes em estado grave em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), processo conhecido por intubação.
Ao mesmo tempo, o dispositivo poderá proteger a equipe médica e demais internos do hospital de contaminação cruzada, já que ele faz a filtragem do ar respirado pelos doentes contaminados com o novo coronavírus. Acoplado ao respirador artificial, o equipamento segue um modelo empregado com sucesso na Itália e em outros países europeus durante a pandemia. Por conta da grande procura, tornou-se praticamente impossível fazer sua importação. A saída foi desenvolver um produto nacional.
Em São Paulo, uma equipe multidisciplinar da Universidade de São Paulo (USP), composta por pesquisadores da Escola Politécnica (Poli), Faculdade de Medicina (FM) e Faculdade de Odontologia (FO), estima que seu protótipo, em fase final de desenvolvimento, estará pronto ainda este mês. O capacete, segundo o Jornal da USP, é formado por uma cúpula redonda de acrílico, uma membrana de látex ajustável ao pescoço e uma almofada sobre os ombros, além de filtros e válvulas de acesso. Dois tubos conectados ao respirador artificial funcionam como entrada e saída do ar.
No Ceará, uma força-tarefa composta por engenheiros, médicos e técnicos das universidades Federal do Ceará (UFC) e de Fortaleza (Unifor), está pronta para iniciar os testes clínicos de um modelo de capacete, construído com PVC e látex, batizado de Elmo. Criado pelo Instituto Senai de Tecnologia em Eletrometalmecânica, em Fortaleza, o aparelho será destinado a hospitais públicos e custará cerca de R$ 300.
“Os princípios e requisitos terapêuticos do Elmo foram plenamente atingidos com o protótipo”, afirmou Marcelo Alcântara, superintendente da Escola de Saúde Pública (ESP), em nota distribuída pela Secretaria da Saúde do Ceará. O projeto tem apoio da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ceará (Funcap), Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e Secretaria da Saúde.
A empresa Roboris, de São Paulo, especializada na criação de robôs industriais, também está próxima de concluir o projeto de seu capacete de ventilação. A Bolha de Respiração Individual Controlada (Bric) da empresa começou a ser testada no Hospital das Clínicas da FM-USP na semana passada. “O primeiro lote, de mil unidades, deverá ficar pronto ainda em maio”, informou o engenheiro Guilherme Thiago de Souza, presidente da Roboris. Cada unidade custará R$ 627.
Estudo realizado em 2016 por cientistas da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, apontou que os capacetes de ventilação assistida são mais eficazes no tratamento de doentes com dificuldades de respiração, o que é comum com portadores de Covid-19, do que as máscaras faciais, que cobrem o nariz e a boca. Pacientes que usam os capacetes também passam menos tempo em UTI e têm maior chance de sobrevivência, conforme a investigação norte-americana.
Os modelos criados na USP, no Ceará e pela empresa Roboris ainda aguardam registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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