Um deles usa átomos (unidades que compõem a matéria) para estudar fótons, a partícula da luz; o outro usa fótons para estudar átomos. Além dessa simetria que conduz seus grupos de pesquisa por caminhos paralelos e bastante próximos, Serge Haroche e David Wineman estão a partir de hoje unidos por compartilhar o Nobel de Física deste ano. Segundo o anúncio do prêmio, feito esta manhã em Estocolmo, Suécia, eles desenvolveram métodos experimentais inovadores que permitem a medição e a manipulação de sistemas quânticos.
O grande problema com as propriedades quânticas é que elas só atuam na escala dos átomos, e são destruídas quando as partículas entram em contato com o meio externo, no mundo macroscópico. Por isso, durante muito tempo não podiam ser estudadas: quando pesquisadores detectavam essas propriedades, elas deixavam de existir. Ao estudar a interação entre luz e matéria, os grupos de Haroche em Paris, na École Normale Supérieure e no Collège de France, e de Wineland nos Estados Unidos, no Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (Nist) e da Universidade do Colorado em Boulder, têm permitido empurrar as fronteiras entre a mecânica clássica e a quântica.
Haroche, o primeiro ganhador do Nobel nascido no Marrocos, em Casablanca, aprisiona e mede fótons com feixes de átomos que envia por uma armadilha. Envolvido em entender o funcionamento quântico das partículas, ele não sabe que aplicações práticas podem sair de sua pesquisa. “Só posso dizer que eu acho que haverá aplicações”, disse a Adam Smith, do site do Nobel. Assim espera, pelo menos, o físico que consegue armar encontros entre um único fóton e um único átomo.
Já o norte-americano, que usa campos elétricos para aprisionar átomos carregados (íons) e feixes de laser para manipulá-los, avança por caminhos mais práticos buscando desenvolver relógios cada vez mais precisos. O uso potencial para esses relógios ainda não está muito claro, mas ele acredita que pode ser importante para melhorar as ferramentas de navegação. Historicamente, segundo ele, essa tem sido a principal aplicação de medir o tempo com cada vez mais precisão. Avanços na computação, para ele, estão distantes. “Ainda vai demorar muito para termos um computador quântico útil, mas muitos de nós achamos que vai acabar por acontecer”, disse. É uma questão de conseguir controlar cada vez melhor os sistemas.
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