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Nobel de química

Casamento entre as físicas quântica e clássica rende Nobel de Química

O trabalho de Martin Karplus, Michael Levitt e Arieh Warshel aperfeiçoou modelos teóricos do comportamento de moléculas complexas

Martin Karplus, Michael Levitt e Arieh Warshel

Nobel Media AB, S. Fisch e Wikimedia CommonsMartin Karplus, Michael Levitt e Arieh WarshelNobel Media AB, S. Fisch e Wikimedia Commons

Se hoje é possível fazer previsões teóricas de como moléculas se comportam quando entram em contato umas com as outras, isso se deve em grande parte ao trabalho de Martin Karplus, da Universidade de Estrasburgo, na França, Michael Levitt, da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e Arieh Warshel, da Universidade do Sul da Califórnia. Tendo feito parte do trabalho em conjunto, eles conseguiram unir a física quântica e a física clássica e tornar possíveis modelos complexos do funcionamento de sistemas químicos. Um feito digno do prêmio Nobel que receberam hoje (9/10).

Antes do trabalho deles, para estudar química na teoria era necessário escolher entre as duas escalas de física. A abordagem clássica permitia usar cálculos simples para analisar moléculas grandes, mas não era possível simular reações. A física quântica lançava luz sobre reações, mas os cálculos incrivelmente complexos só permitiam analisar moléculas pequenas, mesmo com grandes recursos computacionais. Com a contribuição do trio vencedor do Nobel, essas fronteiras se desfizeram.

“Não há companhia farmacêutica que não tenha uma divisão teórica trabalhando em prever como uma molécula interagirá com o alvo no corpo”, disse Sven Lidin, líder da comissão do Nobel de Química deste ano, à jornalista Joanna Rose, em entrevista divulgada no site do prêmio mais prestigiado da ciência. Com essa base teórica antes do experimento economiza-se, segundo ele, 90% do dinheiro e do tempo, que seriam perdidos em explorações infrutíferas.

Há também casos de substâncias previstas na teoria e só por isso encontradas na prática. Foi o caso do grafeno, material composto de carbono cuja importância foi reconhecida pelo Nobel de química em 2010. “Quando eu era um jovem químico”, conta Lidin, que se define como experimentalista, “teóricos vinham a nós com uma ideia de como um sistema se comportava. Se as suas previsões concordassem com os nossos experimentos, eles ficavam felizes. Caso contrário, tínhamos sempre a certeza de que os teóricos estavam errados… de novo”. Nos últimos anos, segundo ele, tudo mudou: os químicos experimentais podem igualmente estar equivocados.

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