O Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) chega aos 110 anos com uma excelente expectativa de viva. Dono de documentos únicos que contam e ilustram a história paulista com enorme riqueza de detalhes, nos últimos tempos seu acervo estava à beira do abandono total, sem a manutenção necessária para sua preservação e com pouquíssima segurança.
O instituto nasceu da iniciativa do médico Domingos José Nogueira Jaguaribe Filho, do engenheiro Antônio de Toledo Pisa e do advogado Estevão Leão Bourroul, em 1894. Os três publicaram anúncio no jornal O Estado de S. Paulo em que convidavam “todos os homens de letras” da capital para uma reunião na Faculdade de Direito do largo de São Francisco para tratar da criação do IHGSP.
Sessenta e seis personalidades atenderam ao convite e se tornaram fundadoras do empreendimento juntas com os três pioneiros. A missão da entidade, segundo o artigo 1º do estatuto, é “promover o estudo e o desenvolvimento da história e geografia do Brasil e, principalmente, do Estado de São Paulo e bem assim ocupar-se de questões e assuntos literários, científicos, artísticos e industriais que possam interessar o país sob qualquer ponto de vista”. Os paulistas não foram pioneiros.
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro foi o primeiro a ser fundado, em 1838, por iniciativa ded. Pedro II, inspirado no Institut Historique, de Paris (de 1834). Os de Pernambuco (1862), de Alagoas (1869) e do Ceará (1887) vieram em seguida – o da Bahia também é de 1894. Hoje esse tipo de instituição tornou-se comum nas principais cidades do país, depositárias de documentos que nem sempre encontram guarida nos órgãos municipais. Eles também são um ponto de encontro de sociedades científicas e literárias.
Em São Paulo, por exemplo, já em 1898 o engenheiro Euclides da Cunha (um dos sócios do IHGSP) fez a leitura pública do trabalho “Climatologia dos sertões da Bahia”. Tratava-se da apresentação de uma parte de Os sertões, lançada em forma de livro quatro anos depois. Aos poucos, o instituto transformou-se no guardião de parte da memória paulista e nacional em razão das doações de bibliotecas e arquivos pessoais. O acervo guarda documentação do pintor Benedito Calixto, sobre a vida privada do ex-presidente Washington Luís, assuntos relativos à história de cidades do interior e do litoral paulista, coleção de cartas dos chefes da Revolução de 1924, álbuns de música com hinos, marchas, concertos e trechos de ópera do maestro Alexandre Levy e dezenas de outras coleções.
Há peças raras da Marinha Imperial na Guerra do Paraguai, objetos que pertenceram a Santos Dumont, bilhetes e cartas de d. Pedro II, princesa Isabel e conde D’Eu. O salão dedicado à Revolução Constitucionalista de 32 tem grande variedade de itens originais daquele período. Esse será o primeiro setor a ser revitalizado. Hoje instalado no quarto andar da sede do IHGSP, o acervo está em condições precárias, necessitando de reforma e do trabalho de pesquisadores para reorganizar e colocar o material em condições de ser consultado sem o perigo de deteriorar ainda mais os raros documentos.
A família de José Celestino Bourroul, sócio do instituto morto recentemente, doou a biblioteca de mais de 4 mil exemplares sobre a Revolução de 32. “Além disso, a família se propôs a fazer a reforma para a correta instalação dos livros, conjugada com o acervo já existente no instituto”, afirma Nelly Martins Ferreira Candeias, presidente do instituto desde 2002, uma das responsáveis pelo arejamento da instituição e a primeira mulher a presidi-lo.
A Federação Paulista de Filatelia deverá instalar lá o Centro de Memória Filatélica com parte da história das comunicações brasileiras. Além disso, o instituto está recebendo novos sócios, com interesses diversificados. “Convidamos pesquisadores, escritores e personalidades diversas para revigorar a instituição”, conta Nelly. Entre eles estão Jorge Caldeira, autor de Mauá – O empresário do Império, que já colabora com o instituto, Adriana Florence, pesquisadora e artista plástica descendente do naturalista e desenhista Hercule Florence, Maria Adelaide do Amaral e Alcides Nogueira, escritores, autores da minissérie televisiva Um só coração .
“Como renascimento do instituto, queremos atrair estudantes e pesquisadores dos colégios e faculdades do centro de São Paulo e torná-lo um irradiador de conhecimento.”
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