O racionamento de energia no Japão, imposto após a tragédia da usina nuclear de Fukushima, mudou a rotina de cientistas do país. Pesquisadores tentam se acostumar aos inconvenientes de um ambiente de baixo consumo de eletricidade. O químico Eiichi Nakamura, professor da Universidade de Tóquio, disse à revista Nature (17 de maio) que a restrição ao uso de equipamentos fez a pesquisa perder velocidade. “Podemos poupar facilmente 10% de energia, mas os cortes atuais na casa dos 30% vão prejudicar a produtividade no longo prazo”, afirmou. Para Haruhiko Bito, professor de neuroquímica da mesma universidade, a economia de energia é tolerável: “Restringir o uso de alguns equipamentos para horários fora de pico é realista e viável”. Outros se queixam de que a estratégia irá desencorajar os cientistas mais jovens, forçando-os a trabalhar à noite. “É uma boa ocasião para percebermos que os nossos recursos não são infinitos”, disse Toshio Yamagata, especialista em modelagem do oceano, que teve que lidar com um corte de 30% no tempo de operação de um supercomputador. Não se trata, já se sabe, de um desconforto passageiro. O primeiro-ministro, Naoto Kan, anunciou que está arquivada a meta de construir 14 reatores nucleares nos próximos 20 anos. Com a política energética do país em frangalhos, os defensores das energias renováveis e da eficiência mostraram seus argumentos. O Instituto para Políticas Energéticas Sustentáveis, de Tóquio, propôs uma mudança ambiciosa na combinação de matrizes energéticas do país. Em nível nacional, o instituto diz que a parcela de energias renováveis do mix de energia deve subir de cerca de 8% a 30% até 2020 e para 100% em 2050. Mas a estratégia, para compensar a suspensão das usinas nucleares, exigirá que a demanda energética atual seja reduzida pela metade.
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