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IMUNOLOGIA

Começa a construção do Centro Nacional de Vacinas em Belo Horizonte

Instituição deverá funcionar como elo entre a pesquisa básica de imunobiológicos e o produto final

CTVacinas / UFMGTécnico realiza experimento no CTVacinasCTVacinas / UFMG

Uma cerimônia realizada em 19 de dezembro no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec), na capital mineira, marcou o início da construção de uma instituição necessária no país: o Centro Nacional de Vacinas (CNVacinas). Resultado de uma parceria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o estado de Minas Gerais, o centro terá como missão desenvolver imunizantes e produtos imunobiológicos da concepção até a primeira fase de ensaio em seres humanos, passando pelos testes em animais. Se tudo sair como o planejado, o CNVacinas deverá suprir uma lacuna importante na estrutura de inovação farmacêutica nacional e acrescentar ao país capacidades hoje disponíveis em poucas instituições públicas.

“O Brasil tem um ecossistema de vacina quase completo”, afirma o imunologista Ricardo Gazzinelli, professor da UFMG e coordenador do CTVacinas, embrião do novo centro. De um lado, as universidades e os institutos de pesquisa têm equipes bem qualificadas para conceber novas formulações e realizar os testes em células e animais de laboratório. De outro, alguns grupos brasileiros têm experiência na realização de ensaios clínicos de fase 2/3 e a indústria farmacêutica consegue produzir e envasar em grande quantidade e fazer chegar ao Sistema Único de Saúde, que tem capilaridade para a distribuição. Faltava, no entanto, uma ponte entre os dois extremos. “Nós não tínhamos a parte de inovação, que passa da prova de conceito para o ensaio clínico de fase 1. Esse será o nicho do novo centro”, explica o pesquisador. Recentemente seu grupo completou essa etapa e iniciou os testes em seres humanos de uma formulação candidata a vacina contra a Covid-19, a SpiN-Tec-MCTI-UFMG (ver Pesquisa FAPESP nº 321).

Essa carência ficou mais evidente durante a pandemia de Covid-19, quando surgiram várias formulações candidatas a vacina desenvolvidas por pesquisadores brasileiros, mas não havia no país fábricas disponíveis capazes de produzir lotes-piloto seguindo as boas práticas de fabricação disponíveis. Hoje o Instituto Butantan, em São Paulo, e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fiocruz, o Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro, são dois dos raros centros com estrutura para fazer a transição dos experimentos com vacinas e imunobiológicos da pesquisa básica para a etapa de ensaios clínicos seguindo os padrões exigidos pelas agências regulatórias, como a Anvisa. Segundo Gazzinelli, no entanto, essas instalações não têm sido utilizadas para essa finalidade.

Entrevista: Ricardo Gazzinelli
00:00 / 16:38

O CNVacinas será instalado no BH-Tec, próximo ao campus da UFMG no bairro da Pampulha. No prédio de cinco andares e 8,7 mil metros quadrados, haverá auditórios e laboratórios para o desenvolvimento de tecnologias e a realização de testes de diferentes estágios, além de um setor de controle de qualidade e validação de protótipos e um laboratório de segurança de nível 3 para trabalhar com organismos geneticamente modificados. Também está prevista a construção de uma fábrica de lotes-piloto com capacidade de produzir de 300 a 30 mil doses. A indústria farmacêutica e pesquisadores de outras instituições poderão contratar os serviços do centro, que deve se dedicar, ainda, ao desenvolvimento de imunobiológicos e testes de diagnósticos para doenças humanas e veterinárias. “O centro fará o desenvolvimento e passará a tecnologia para a indústria produzir em larga escala”, conta o imunologista. “A ideia é ajudar o país a se tornar autossuficiente em todas as etapas de desenvolvimento e produção de vacinas”, diz.

A construção e a equipagem do novo centro devem consumir R$ 80 milhões, recursos já disponíveis – são R$ 50 milhões pagos pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e R$ 30 milhões pelo governo de Minas Gerais. Em dezembro, máquinas realizavam a terraplanagem da área em que será erguido o CNVacinas. A previsão é de que fique pronto em 2025.

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