Pesquisadores das universidades de Wisconsin-Madison e de Nova York, nos Estados Unidos, investigaram por que deficiências nos artigos científicos que sofreram retratação – ou seja, que foram cancelados após sua divulgação devido à descoberta de erros ou algum tipo de má conduta – passaram despercebidas pela revisão por pares, processo em que especialistas avaliam a correção e a relevância do conteúdo de um estudo antes que ele seja aceito para publicação. Em artigo publicado no Journal of Informetrics, os autores verificaram 260 comentários feitos por revisores de uma amostra de 160 artigos científicos que, posteriormente, seriam retratados por inconsistências, plágio ou fraude. Os papers cancelados foram obtidos no site Retraction Watch, enquanto os comentários a respeito deles foram compartilhados pelos próprios revisores, de forma anônima, em um site chamado Publons, hoje pertencente à Clarivate Analytics.
Das 260 revisões associadas aos artigos retratados, 128 recomendaram a aceitação do estudo para publicação ou pediram correções menores no manuscrito, o equivalente a 49,2% do total. Outras 111 (42,7%) pediram alterações significativas e apenas 21 (8,1%) sugeriram que os manuscritos fossem rejeitados – a opinião, de todo modo, não foi levada em conta pelos responsáveis pelos periódicos. O estudo propõe que editores de revistas, ou os encarregados de consolidar os comentários da revisão por pares, prestem mais atenção em sinais de alerta e realizem inspeções adicionais para rastrear possíveis problemas.
Em relação a problemas específicos que levaram à retratação dos artigos, 73,8% das revisões falharam em detectá-los, enquanto 26,2% enxergaram algum indício deles. De acordo com os resultados, o processo de revisão por pares foi mais eficaz na identificação de causas de retratação relacionadas a dados, métodos e resultados do que aquelas relativas a plágio de texto, atribuição de autoria e problemas com referências.
O estudo também buscou identificar características dos revisores mais afiados, aqueles que conseguiram detectar problemas. Os mais capazes de apontar inconsistências tinham mais tempo de atividade como revisor (média de 6,19 anos) do que os que falharam na tarefa (4,39 anos). Da mesma forma, avaliadores que tinham mais familiaridade com o tema do artigo exibiram habilidade maior de enxergar problemas. Segundo os autores, a escolha de revisores realmente especializados nos tópicos de pesquisa dos manuscritos é crucial para detectar erros ou desvios que podem levar à retratação.
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