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Carta do editor | 242

Como nasce uma disciplina

A reportagem de capa desta edição flagrou um momento incomum do fazer científico: o nascimento de uma nova disciplina. Biólogos e geólogos que estudam a formação da floresta amazônica e da Mata Atlântica iniciaram uma forma de cooperação que extrapolou a multidisciplinaridade. Para avançar nas pesquisas, os dois grupos de cientistas de setores tão distintos perceberam que precisavam mais do que informações esparsas sobre os assuntos que não dominam – precisavam se aprofundar na seara uns dos outros e trabalhar juntos desde as primeiras perguntas do projeto em comum. A união das especialidades para estudar as florestas deu origem ao que vem sendo chamado desde 2014 de geogenômica, uma área nova de estudos integrados entre a biologia e a geologia.

Apenas uma especialidade não é suficiente para explicar a complexidade da Amazônia ou da Mata Atlântica. Para saber como a biodiversidade das grandes extensões de mata foi formada é necessário investigar tanto a parte vegetal quanto os cursos d’água, as montanhas e o subsolo. Rios são barreiras naturais para a mobilidade de organismos, mas nem sempre estiveram na posição onde estão hoje porque as regiões passam por transformações significativas quando se leva em conta a escala geológica, de milhões de anos. Novas datações de minerais, por exemplo, podem alterar o modo como se vê a evolução da flora e fauna. Também já há trabalhos em que paleoclimatólogos usam dados genômicos para testar hipóteses formuladas por geólogos.

Um impulso relevante ao novo campo de estudos veio da colaboração entre os programas Biota-FAPESP e Dimensions of Biodiversity, da norte-americana National Science Foundation (NSF). As duas agências apoiam desde 2012 projetos de biodiversidade em que a congregação de grandes grupos de pesquisadores de especialidades diferentes permite analisar enormes quantidades de informações coletadas. Pelo entusiasmo demonstrado pelos participantes aqui e nos Estados Unidos, mais resultados não tardarão a surgir.

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Quando há urgência da sociedade sobre problemas de saúde, invariavelmente os pesquisadores são convocados para procurar as soluções. A emergência do vírus zika no Brasil e suas graves consequências mobilizam grande número de cientistas e laboratórios médicos em todo o mundo. Pode-se medir essa movimentação pelo número de artigos científicos publicados. Entre 1952 e 2015, o Pubmed, base de papers na área biomédica, registrou 218 trabalhos sobre o vírus. Agora, só nos três primeiros meses de 2016, foram 307. Ainda não há saídas à vista, embora começar a entender o problema em um período tão curto de tempo já seja um avanço. A reportagem da página 48 apresenta alguns trabalhos que começam a demonstrar que o zika causa de fato a microcefalia.

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A entrevista da antropóloga Eunice Durham registra uma visão de universidade e pedagogia pouco comum entre acadêmicos de qualquer área. Com ampla experiência como docente, pesquisadora e gestora de órgãos ligados ao ensino superior, ela defende um sistema de educação diverso e flexível. No ensino fundamental, diz que há pouca competência pedagógica e quase nenhuma valorização do mérito porque os professores não são avaliados. Vale a pena conhecer suas opiniões.

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