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PARCERIA

Competência exportada para os EUA

Pesquisadores da ONSA vão seqüenciar o genoma da Xylella da videira

Pesquisadores brasileiros da rede ONSA vão realizar o seqüenciamento genético da Xylella fastidiosa que ataca videiras nos Estados Unidos, causando prejuízos anuais de dezenas de milhões de dólares a plantações na Califórnia. Pesquisadores norte-americanos vão participar dos trabalhos de análise. O anúncio da parceria foi feito no dia 14 de abril, naquele Estado, em reunião que teve a presença do ministro brasileiro da Agricultura, Marcos Pratini de Moares.

O convite para a participação brasileira veio do Serviço de Pesquisa em Agricultura (ARS) dos Estados Unidos, órgão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), e da American Vineyard Foundation, após os 35 laboratórios paulistas ligados à rede ONSA terem concluído, em janeiro passado, o seqüenciamento genético da Xylella fastidiosa que ataca os citros. O artigo cientifíco sobre esse feito será publicado na Nature, nas próximas semanas.

Parentes próximas, as duas bactérias agem e produzem sintomas bastante parecidos nas plantas atacadas por elas. A que afeta os laranjais brasileiros, provoca a clorose variegada dos citros (CVC) ou praga do amarelinho. Tendo como vetor cinco diferentes espécies de cigarrinhas, essa Xylella entope o xilema da planta, impedindo a circulação da água e nutrientes, causando o amarelamento de folhas e o emurchecimento dos frutos, até a morte da árvore. A Xylella fastidiosa que ataca as videiras norte-americanas provoca o mal de Pierce. Também transmitida por uma cigarrinha, ela age da mesma forma que a sua homônima, provocando os mesmos sintomas.

Oportunidades
O projeto será financiado pelas duas instituições norte-americanas e pela FAPESP. A ARS e a American Vineyard Foundation entrarão com US$ 125 mil cada e a FAPESP com US$ 250 mil. A pesquisa brasileira será coordenada por Andrew Simpson, que foi o coordenador de DNA do projeto Genoma Xylella, enquanto a parte norte-americana estará sob a responsabilidade de Edwin Civerolo, do Departamento de Patologia de Plantas da Universidade da Califórnia e da Unidade de Pesquisa em Genética de Produtos Agrícolas e Patologia, do ARS.

Para Civerolo, as perspectivas da parceria são muito animadoras. “É uma oportunidade muito boa e acreditamos que teremos bons resultados, a partir dessa pesquisa em colaboração, no conhecimento e controle da Xylella que ataca as uvas da Califórnia.” E segundo Floyd Horn, administrador do ARS, a expertise dos pesquisadores brasileiros será de enorme importância para a adoção de estratégias de controle do mal de Pierce.

Também para os brasileiros a parceria representa boas oportunidades, segundo o diretor científico da FAPESP, José Fernando Perez. “A informação sobre o genoma dessa outra linhagem da Xylella fastidiosa que ataca as vinhas vai ser muito importante para o Genoma Funcional da Xylella que provoca o amarelinho, pela observação de genes ausentes ou presença de seqüências de genes com a mesma função”, diz ele. Ainda no âmbito do Genoma Funcional da Xylella, Perez assinala ainda que o trabalho conjunto com excelentes fitopatologistas norte-americanos poderá acelerar a obtenção de estratégias para controle da CVC.

Por fim, no entender do diretor científico, o projeto confere uma grande visibilidade à ciência brasileira, na medida em que se reconhece a competência dos nossos pesquisadores para dar uma contribuição científica na solução de um problema de relevância econômica para os Estados Unidos, país líder em ciência e tecnologia no mundo.

Isso ficou evidente na edição do jornal Los Angeles Times do dia 15 de abril, que publicou reportagem sobre a parceria, com o título “Grupo brasileiro vai ajudar a combater a doença da videira”. A expectativa é que a semelhança entre as duas Xylellas simplifique o processo de obtenção do genoma inteiro da bactéria e o seqüenciamento esteja concluído em menos de um ano. Da rede ONSA, cerca de dez laboratórios deverão participar.

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