O biólogo Filipe Oliveira começou a se interessar pela biologia evolutiva do desenvolvimento em 2009, após um curso de verão na Universidade de São Paulo (USP). Na época, esse campo das ciências biológicas que compara os processos de desenvolvimento dos embriões para entender a origem ancestral de padrões biológicos ainda era incipiente no Brasil. Oliveira estava na graduação na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e encontrou na Universidade de Uppsala, na Suécia, a oportunidade de se aprofundar sobre o assunto em um mestrado no âmbito do Programa Erasmus Mundus, financiado pela União Europeia.
Oliveira mudou-se para a Suécia no início de 2010, aos 23 anos. O programa permitia cursar alguns semestres em diferentes instituições. Optou pelas universidades de Munique Ludwig-Maximilians, na Alemanha, e Harvard, nos Estados Unidos. “Defendi duas dissertações”, ele conta. “Uma na Alemanha, sobre a evolução das vértebras cervicais em aves, e outra, feita nos Estados Unidos e defendida em Uppsala, sobre a evolução do bico das aves.”
Com o fim dos mestrados, em 2012, Oliveira voltou ao Brasil para participar de um curso sobre evolução orgânica oferecido pela Escola São Paulo de Ciência Avançada (Espca), modalidade de apoio da FAPESP destinada a pós-doutorandos e a alunos de mestrado e doutorado do Brasil e do exterior. Poucas semanas depois, ele se envolveu em um novo projeto, com bolsa do Departamento de Biologia Geral da UFV, de estudo da mandíbula de embriões de abelhas com microscopia de varredura.
“Paralelamente, eu e alguns estudantes da graduação criamos o folhetim Miró em Darwin, que se transformou em uma oportunidade de colocar em prática meu interesse em conectar ciência e sociedade”, diz.
O biólogo ficou pouco tempo em Viçosa. Em 2013, candidatou-se para uma vaga de assistente de pesquisa no Instituto de Biotecnologia da Universidade de Helsinki, na Finlândia, onde meses depois iniciou o doutorado no estudo do crânio de embriões de serpentes e lagartos. “No projeto, aprofundei minhas atividades acadêmicas com museus na Finlândia, Alemanha e Estados Unidos”, relembra. “Essas experiências me estimularam a pensar em processos que conectassem as pessoas à ciência e às suas tecnologias”, relembra.
No Lungi, programa de empreendedorismo da Helsinki Think Company, ele conseguiu estruturar suas ideias sobre o projeto social. Em 2016, Oliveira trancou o doutorado e decidiu voltar para o Brasil para iniciar seu empreendimento, o Conector Ciência. Ele e o companheiro, o designer finlandês Tuomas Saikkonen, instalaram-se em Lençóis, na Chapada Diamantina, Bahia, onde desenvolveram os primeiros projetos sociais de democratização da ciência nas escolas a partir da reutilização de microprocessadores e sensores na montagem de tecnologias.
“A ideia era promover oficinas com a comunidade escolar e colocar em prática a criatividade e o pensamento inovador, por meio da experimentação científica e tecnológica”, explica o biólogo. Ao todo, mais de 34 oficinas já foram realizadas, com pouco mais de 800 participantes. E o projeto que começou em Lençóis vai aos poucos ampliando seu alcance. Com sede no Rio de Janeiro, o Conector Ciência já promoveu oficinas em universidades, escolas e unidades do Sesc pelo país.
Mais recentemente, eles firmaram uma parceria com a Prometheus Science, da Alemanha. “Estamos agora focados na fabricação e no uso de microscópios digitais de qualidade didática e científica. O objetivo é estimular a capacidade das pessoas em desenvolver produtos, pesquisas e negócios inovadores”, ele destaca. “Queremos engajar jovens, crianças, pais e educadores na construção de uma ciência mais prática nas escolas.”
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