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Brasil

Continente gelado está mais quente

Em quase 50 anos, a temperatura média na Antártida subiu 1,1ºC. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Laboratório de Ciências do Clima e do Ambiente da França analisaram uma longa série de registros mensais de temperatura, de 1947 a 1995, na ilha Rei George, onde fica a base brasileira. Nesse período, houve um aquecimento anual médio de 0,022 grau – o aumento maior ocorreu no inverno, que se tornou 1,9ºC mais quente.

É uma possível conseqüência do aumento da temperatura em todo o planeta, provocado pelo acúmulo de gás carbônico na atmosfera. Nessa região, a oeste do continente antártico, a temperatura do ar é regulada pela interação entre as correntes de ar quente vindas do norte e pelas placas de gelo marinho, que diminuíram de tamanho de centenas de metros a 1 quilômetro nesses 49 anos, segundo um estudo publicado na Pesquisa Antártica Brasileira. Essa elevação, porém, não parece suficiente para explicar o encolhimento entre 1956 e 2000 das geleiras situadas na ilha Rei George.

A análise de 70 bacias de drenagem dessa região antártica indicou que houve maior redução das geleiras nas bacias do Almirantado, Rei George e Sherratt, de acordo com um estudo coordenado pelo glaciologista Jefferson Cardia Simões, do Núcleo de Pesquisas Antárticas e Climáticas (Nupac) da UFRGS. No final de outubro, Simões iniciou sua 13ª expedição à Antártida. Ele e o geógrafo Francisco Aquino, também do Nupac, acompanham 32 pesquisadores chilenos na primeira expedição por terra a atravessar todo o continente antártico até o Pólo Sul geográfico, o ponto extremo do hemisfério Sul. Em 1961, Rubens Vilella, da Universidade de São Paulo, foi o primeiro brasileiro a chegar ao Pólo Sul, tendo feito parte do percurso de avião.

Ao lado de 12 pesquisadores chilenos, Simões percorrerá 2.400 quilômetros de terrenos em que o ar é extremamente seco e as temperaturas chegam a 40ºC negativos no verão. Ele pretende recolher amostras de gelo de dezenas de metros de profundidade, para analisar a alteração química da atmosfera nos últimos 300 anos.

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