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Clonagem

Da ficção ao debate necessário

Um dos temas mais polêmicos e explosivos da Ciência, no presente, é a possibilidade da clonagem de seres humanos, aberta pelas experiências concretas – algumas bem sucedidas – da criação de clones de outras espécies animais. O debate a esse respeito rapidamente extravasou os limites dos laboratórios dos cientistas e alcançou os especialistas em ética, política e direito; depois, através da mídia, na forma de um bombardeio contínuo de informações contraditórias, espraiou-se por incontáveis ambientes, até pairar de forma difusa, como uma espécie de sonho ou pesadelo, sobre o imaginário social como um todo.

E foi assim que, no Brasil, o clone humano logrou tornar-se já objeto de ficção, personagem visto e discutido, criticado, amado ou odiado, do folhetim eletrônico de maior audiência no país: a novela das oito da rede Globo. A questão da clonagem envolve, sem dúvida, muitos aspectos e, ao mesmo tempo, muitos mitos, que vão continuar impondo, à sociedade, um prolongado debate, antes que se alcance qualquer consenso sobre o tema. Dentro disso, este suplemento especial de Pesquisa FAPESP propõe-se a trazer uma contribuição séria para as discussões do tema, centrando-se em seus aspectos científicos, tecnológicos e éticos.

Apresenta, para tanto, as visões, reflexões e inquietações de respeitados especialistas nesses campos: Mayana Zatz, por exemplo, é professora titular do Departamento de Genética do Instituto de Biociências da USP e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano, um dos dez Cepids – Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão que constituem um dos mais importantes programas especiais da FAPESP. Em 2001, Mayana conquistou o prêmio Women in Science, concedido pela Unesco e L’Oréal a cinco cientistas em todo o mundo. Marco Antonio Zago é professor titular do Departamento de Clínica Médica na USP de Ribeirão Preto e coordenador de outro Cepid, O Centro de Terapia Celular.

Esses dois geneticistas têm dado contribuições importantes para o desenvolvimento de terapias baseadas em células-tronco, nas quais a clonagem é uma entre outras tecnologias utilizadas. A geneticista britânica Anne McLaren, também ganhadora do prêmio Women in Science, no ano passado, é uma das pioneiras no estudo da biologia reprodutiva, tanto que suas pesquisas foram fundamentais para o desenvolvimento da fertilização in vitro, e hoje encontra-se a linha de frente das pesquisas com células-tronco.

Finalmente, Renato Janine Ribeiro é professor titular de Ética e Filosofia Política na USP e entre os sete livros que já publicou – além dos muitos artigos em coletâneas – está A sociedade contra o social: o alto custo da vida pública no Brasil (Companhia das Letras e Fundação Biblioteca Nacional, 2000), que lhe valeu o prêmio Jabuti 2001, na área de ensaios e ciências humanas.

Poucos sabem, mas Janine, que tem entre seus principais interesses de estudo a natureza teatral da representação política e as dificuldades daconstrução da democracia no Brasil, já foi jornalista profissional. A edição do suplemento e a reportagem de revisão do tema da clonagem é de Suzel Tunes e a entrevista com Anne MacLaren é de Marcos Pivetta. Capa e projeto gráfico são de Hélio de Almeida, com diagramação de Tânia Maria dos Santos, José Roberto Medda e Luciana Facchini.

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