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Carreiras

Dança das galáxias

Colaboradora da Nasa há mais de duas décadas, astrônoma brasileira foi responsável pelo descobrimento de supernova

Mello confere maquete do telescópio espacial James Webb, no Space Telescope Science Institute de Maryland, 2009

Tommy Wiklind

Interessada desde criança em compreender como teve início a vida na Terra, foi por intermédio da astronomia que a pesquisadora Duilia de Mello buscou as respostas para a maioria de suas dúvidas existenciais. “Fui uma menina muito curiosa, gostava de coisas do espaço e do Universo. Fazia muitas perguntas, grande parte das vezes sem receber explicação para o que eu queria saber”, afirma a cientista, que se tornou especialista no estudo evolutivo das galáxias e hoje é vice-reitora da Universidade Católica de Washington, nos Estados Unidos, onde também lecionou física e astronomia.

Responsável pela descoberta da Supernova 1997-D, identificada por ela em 1997 no observatório de Cerro Tololo, no Chile, durante investigação sobre galáxias em ambientes densos, Mello localizou também um conjunto inédito de estrelas órfãs entre as galáxias M81 e M82, em 2008, que foi intitulado de bolhas azuis. Caracterizadas por explosões brilhantes e que resultam na formação de novas estrelas, supernovas são as grandes responsáveis pela disseminação de elementos químicos no Cosmo.

“Elas contam a história da gente, da origem da vida, pois todos os elementos químicos da natureza são formados dentro das estrelas”, afirma. Em 1997, foi contratada pelo Instituto do Telescópio Espacial Hubble para desenvolver pesquisas sobre galáxias com surto de formação estelar, onde também integrou a equipe responsável por captar imagens das profundezas do Universo.

Nascida em Jundiaí, interior do estado de São Paulo, Mello passou parte da infância em Belo Horizonte (MG) até mudar-se com a família para o Rio de Janeiro. A decisão de cursar a faculdade de astronomia, concluída na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 1986, foi tomada aos 16 anos, quando visitou pela primeira vez o Observatório do Valongo, onde está localizado o curso de graduação. “A carreira de astrônomo permite que se trabalhe com divulgação científica em planetários, na área de telecomunicações, com o monitoramento de satélites, ou mesmo na computação e análise de dados. Mas o que queria mesmo era estudar as profundezas do Universo”, recorda.

No mestrado no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Mello especializou-se em galáxias em colisão. “Ao passarem por interações devido à força da gravidade, elas dançam uma ao redor da outra. Com isso, acabam se fundindo e formando uma galáxia só”, explica. Durante o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), conheceu um grupo de pesquisadores da Universidade do Alabama, especialistas no tema. Decidiu passar um período nos Estados Unidos e lá concluiu seu segundo mestrado, em 1993. “Na ocasião, estudei a composição química das galáxias em colisão associada às populações estelares, tema que continuei a desenvolver no meu doutorado ao retornar à USP.”

Desde 2016 Mello mantém o projeto Mulher das Estrelas, que incentiva jovens brasileiros, em especial meninas, a seguirem carreiras científicas. Em palestras em escolas e eventos científicos, ela tenta desconstruir a ideia de que a ciência é algo difícil de alcançar. “Falo para eles que ser genial é dedicar-se aos estudos, prerrogativa indispensável para se tornar um grande pesquisador”, completa a autora de Vivendo com as estrelas (Panda Books, 2009).

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