Arquivo pessoalJoana Naritomi sempre se sentiu dividida entre as letras e os números. Em 1999, prestou vestibular para jornalismo, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e economia, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Passei em ambos os processos seletivos”, conta. “Tentei conciliar os dois cursos, mas uma hora a rotina de trabalho e estudos se tornou inviável.” Optou por seguir na economia, em parte porque oferecia disciplinas como história e sociologia.
Joana concluiu a graduação em 2004, sem saber se seguiria a carreira acadêmica ou se iria para a iniciativa privada. Resolveu experimentar um pouco dos dois. Ingressou em um estágio em um conglomerado de comunicação para trabalhar nas áreas de administração e gestão estratégica. “Ao mesmo tempo, dava monitoria em matemática para alunos de graduação em economia da UFRJ”, conta. À época, ela soube de uma prova da Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em Economia (Anpec), cujo processo seletivo funciona como porta de entrada para cursos em economia de várias instituições de ensino e pesquisa do país.
Prestou e foi selecionada para o mestrado da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio. “Estudei como a experiência colonial e os distintos ciclos econômicos afetaram o desenvolvimento e o modelo de gestão dos municípios brasileiros”, explica. Com o título de mestre em mãos, candidatou-se a uma vaga de assistente de pesquisa no Banco Mundial, nos Estados Unidos. Foi aceita e se mudou para Washington em 2007. “Estudava os desafios para o desenvolvimento socioeconômico da América Latina.”
Pouco depois foi aprovada no Programa de Pós-graduação em Economia Política e de Governo, em Harvard. Antes de definir o objeto de seu doutorado, cursou disciplinas sobre relações econômicas internacionais, desenvolvimento político, entre outras. Foi quando conheceu o economista Raj Chetty, especialista em finanças públicas. “Com o apoio dele, decidi analisar o sistema tributário brasileiro a partir de um estudo da Nota Fiscal Paulista.”
Joana avaliou como esse sistema contribuiu para diminuir a sonegação de impostos ao oferecer, aos consumidores que solicitavam nota fiscal, uma recompensa monetária. “Em quatro anos, o programa aumentou em 21% a receita reportada nos setores de varejo”, diz, ao ressaltar como o engajamento dos cidadãos pode se transformar em ferramenta de monitoramento fiscal.
A experiência a fez aceitar, em 2014, um convite para trabalhar no Departamento de Desenvolvimento Internacional da London School of Economics and Political Science. Na Inglaterra desde então, hoje, aos 36 anos, dá aula para alunos de mestrado e desenvolve pesquisas sobre políticas públicas para o aperfeiçoamento dos sistemas de tributação e seguridade social em contextos de informalidade e sonegação, característicos da realidade brasileira.
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