Vamos imaginar, de um lado, uma dupla de pesquisadores ansiosos para descobrir o que acontece com o corpo e a mente de quem passa dias e dias sem dormir. E de outro, coincidentemente, não muito longe, um bando de homens e mulheres prontos a iniciar uma corrida de aventuras – que vem a ser nada menos que uma das mais extenuantes modalidades esportivas de que se tem notícia nesses tempos de esportes radicais. Parece loucura, sem dúvida, mas, dentro dessa competição, por muitos dias quase não se dorme. Pois bem: do encontro entre esses pesquisadores e esportistas, na bela Chapada Diamantina, para começar, surgiu um experimento científico que aos poucos foi revelando como o exercício físico pode até certo ponto, na verdade, proteger o organismo dos danos normalmente causados pela privação do sono.
É intrigante, como se poderá constatar, na reportagem de capa desta edição de Pesquisa Fapesp, elaborada pelo editor interino de ciência, Ricardo Zorzetto, junto com nosso colaborador Francisco Bicudo. As informações publicadas em uma série de artigos científicos, relatam os autores da reportagem, são úteis não apenas para atletas acostumados a submeter-se a provas extremas, mas também para todos os que trabalham em jornadas muito longas, que obrigam à constante irregularidade nos hábitos de sono, como médicos, enfermeiros, pilotos, bombeiros e tantos outros profissionais.
Vale destacar nesta edição também alguns textos referentes a esforços tecnocientíficos empreendidos no país, em diferentes fronts, pela produção de energia limpa e, ao mesmo tempo, economicamente viável. Vai nessa direção a reportagem da editora de política científica e tecnológica, Claudia Izique, sobre a possibilidade de retomada da obra da usina de Angra 3 e as idéias que existem hoje no governo a respeito da ampliação da fonte nuclear na matriz elétrica brasileira, dos atuais 2% para algo em torno de 5% – em 2030, bem entendido.
No mesmo teto abriga-se o relato da editora assistente de tecnologia, Dinorah Ereno, sobre estudos para viabilizar a produção de álcool a partir de bagaço e palha de cana-de-açúcar, um dos quais faz parte do chamado Projeto Bioetanol, cuja meta principal é o desenvolvimento da tecnologia de hidrólise enzimática para extrair etanol de celulose. Para completar, uma interessante e multifacetada visão de longo prazo sobre a questão energética, a par de uma interpretação muito singular sobre o modelo do poderoso centro de pesquisa da Petrobras e sobre sua interação com muitos outros centros de pesquisa, é apresentada pelo presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli de Azevedo, na entrevista pingue-pongue desta edição.
Na seção de tecnologia, merece destaque o trabalho do Instituto Fábrica do Milênio, uma grande rede virtual formada por 600 pesquisadores, ligados a 39 diferentes grupos de pesquisa, empenhados em desenvolver, entre outros, estudos sobre gestão e transformação organizacional e engenharia de ciclo de vida de produtos, que terminam por aproximar indústrias de manufatura e instituições de pesquisa. A reportagem é de Yuri Vasconcelos.
E quanto às humanidades, vale muito a pena empregar alguns minutos para ler a reportagem do editor Carlos Haag, sobre uma certa, digamos, “juvenilização” ou, pior, “adolescentização” do mundo contemporâneo. Trata-se aqui de estudos e análises que buscam compreender por que há em nossos dias uma pressão tão grande para que todos permaneçam ou pareçam jovens, simples adolescentes, até o envelhecimento irrecorrível. É como se uma cultura da adolescência tivesse terminado por engolir os adultos de nosso planeta Terra.
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