Após uma longa série de equívocos, as cápsulas de fosfoetanolamina usadas informalmente por pessoas com câncer finalmente ganharão o status de droga testada cientificamente em seres humanos. Ainda neste semestre devem começar os testes clínicos com pacientes nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará e só depois de concluída essa etapa os médicos poderão afirmar se de fato a substância é eficaz contra tumores. Sem esse trabalho controlado, demorado e caro, fica-se ao sabor de relatos meramente subjetivos, baseados em impressões pessoais, sem informações claras a respeito da eficácia real da droga.
A história da fosfoetanolamina é incomum pela atenção que conseguiu da classe política, instada por um público que vê no composto uma possibilidade de cura para o câncer. Esse público foi alimentado por relatos positivos de pacientes e médicos que fizeram uso do medicamento fabricado de modo artesanal em um laboratório do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), no campus de São Carlos.
A mobilização de doentes e familiares levou a substância a ser aprovada rapidamente por todas as instâncias do Congresso Nacional e liberada para uso pela Presidência da República mesmo com opiniões contrárias de associações científicas e médicas. O problema é que foi pulada exatamente a etapa em que o medicamento seria testado para se conhecer o efeito no organismo humano. Ou seja, se a droga é passível de causar algum tipo de problema ainda não registrado, se é inócua, ou se traz benefícios para doentes com câncer.
A reportagem de capa desta edição revê a acidentada trajetória da fosfoetanolamina. Agora, o primeiro protocolo científico será financiado pelo governo paulista. Iniciativas semelhantes ocorrerão em Fortaleza e no Rio. Até o momento, todo o conhecimento sobre os possíveis efeitos terapêuticos do medicamento está baseado no que foi observado in vitro, em células de animais ou humanas cultivadas em laboratório, e in vivo, em modelos animais, geralmente camundongos. Ainda é muito pouco para saber se serve também para pessoas.
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Outras doenças graves preocupam especialistas da área da saúde. Entre as mais recentes estão aquelas provocadas por fungos, que nos últimos anos passaram a causar infecções cada vez mais resistentes. Estimativas oficiais indicam que morrem 1,5 milhão de pessoas no mundo anualmente infectadas por fungos, mais do que o total de óbitos decorrentes da malária e da tuberculose. No Brasil, 4 milhões devem ter infecções fúngicas a cada ano. Uma das razões para isso é a redução das defesas naturais de pacientes, em decorrência de doenças ou medicamentos. Pesquisadores brasileiros de universidades e estados diferentes, em consonância com colegas britânicos, trabalham para definir as melhores formas de diagnóstico e tratamento de pneumonias agudas e crônicas de origem fúngica.
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Fora da área da saúde, há outras reportagens interessantes no amplo cardápio de Pesquisa FAPESP. Destaco duas delas, bem distintas entre si. A primeira fala de uma nova tecnologia para o controle biológico de pragas já pronta para uso comercial. Trata-se de um bioinseticida feito a partir de nematoides (vermes do solo) que combatem insetos de lavouras. Outro estudo indica que as normas e práticas internas podem prejudicar a qualidade e a quantidade dos debates dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), protagonista frequente do cenário nacional atual.
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