Nem sempre o cruzamento entre indivíduos de uma (aparentemente) mesma espécie é possível. E mais: quando ele se mostra de todo impossível, talvez esteja a indicar que novas espécies estão surgindo a partir daquela matriz original. Ou, em outras palavras, a impossibilidade talvez seja sinal alvissareiro de que está em curso um fenômeno também conhecido por especiação. O mais excitante nessa história é que a alteração genética, às vezes sutil, na base desse fracasso do cruzamento que assinala o início da formação das novas espécies, não demandará milhares de anos nem mesmo séculos para se completar, como nos fariam crer os cânones clássicos da teoria da evolução de Darwin. É fenômeno observável em prazos curtíssimos, a se confirmar e manter os resultados dos estudos que deram substância à reportagem de capa desta edição de Pesquisa FAPESP, a cargo de nosso editor especial Carlos Fioravanti.
Penso que acompanhar os vários desdobramentos possíveis de uma teoria fascinante, quando mesmo seu conceito mais fundamental ainda não encontrou o terreno tranquilo do consenso – que é o que se dá com a noção de espécie –, tem gosto de aventura prazerosa pelos caminhos e descaminhos da construção do conhecimento científico. E só isso já justificaria o convite aos leitores para conferir o que nos dizem esses novos estudos brasileiros sobre especiação.
Há duas outras reportagens, ainda na seção de ciência, sobre as quais gostaria de chamar a atenção dos leitores, ambas relativas, de certo modo, ao desvendamento de processos fisiológicos que costumam despertar, compreensivelmente, nosso particular interesse. A primeira, com um recorte mais bioquímico, refere-se a estudos que descrevem como e porque uma dieta rica em gorduras, em lugar de produzir saciedade, termina por aumentar a fome. O texto é assinado pela editora da Pesquisa on-line, Maria Guimarães, e pelo editor de ciência, Ricardo Zorzetto. A segunda, com uma ancoragem mais genética, trata de uma pesquisa que mostrou o efeito de um antibiótico na longevidade do já famoso verme C. elegans. A reportagem também é trabalho de Carlos Fioravanti.
Eu gostaria ainda de destacar, na seção de tecnologia, primeiro a entrevista pingue-pongue do professor Carlos Paz de Araújo, um brasileiro de Natal que se mudou para os Estados Unidos e lá se transformou num pesquisador e empreendedor de sucesso no campo restrito dos produtores de memórias para computadores e outros dispositivos eletrônicos, além de professor. Elaborada pelo editor de tecnologia, Marcos de Oliveira, a entrevista conta a trajetória desse engenheiro intrigado com “o futuro do futuro”. E, por fim, chamo a atenção para reportagem muito elucidativa, elaborada pela editora assistente Dinorah Ereno, sobre as empresas juniores que vêm crescendo no ambiente das universidades brasileiras. E aqui se trata, sem dúvida, de um futuro pensado agora, como propõe o título da matéria.
Boa leitura!
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