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NUTRIÇÃO

Dieta rica e equilibrada

Sabores diferentes vão reforçar cardápio campineiro

Melhorar a alimentação oferecida nas escolas públicas brasileiras e reduzir a desnutrição infantil, empregando conceitos modernos em matéria de nutrição, são os objetivos de um estudo desenvolvido por pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (universidade que, por sinal, já colabora desde 1993 com a prefeitura da cidade, por meio de seu curso de Nutrição). Coordenado por Semíramis Martins Álvares Domene, o projeto já avaliou o cardápio e o estado nutricional de um grupo de crianças e adolescentes atendidos pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) nas regiões mais carentes do município de Campinas. O resultado foi preocupante: a dieta do programa não oferece as quantidades necessárias de micronutrientes essenciais.

O projeto Indicadores de Qualidade Nutricional para a Gestão do Programa Nacional de Alimentação Escolar no município de Campinas é apoiado pela FAPESP e tem como parceira a Secretaria Municipal de Educação, que pretende não apenas implementar o programa na cidade como também gerar resultados aplicáveis em outras escolas do país. Os motivos são mais que justificáveis. O Pnae atende cerca de 37 milhões de escolares em todo o país e a responsabilidade por sua administração (no Estado de São Paulo) está municipalizada desde 1993. É um programa dispendioso. Só em Campinas, o investimento anual é da ordem de R$ 21 milhões para atender 165 mil crianças.

“Mas é nos bolsões de pobreza que o programa se torna ainda mais importante, porque a alimentação recebida na escola é a principal refeição do dia, senão a única”, diz Corinta Geraldi, secretária da Educação no município. Melhorar a qualidade dessa alimentação – termo que os técnicos preferem usar em vez de “merenda” escolar – pode ser uma forma bastante eficiente de atacar o problema da desnutrição no Brasil, sobretudo nos bolsões de pobreza, onde ela atinge cerca de 7% da população.

Na opinião de Semíramis, o programa já melhorou muito em relação à abrangência, à qualidade sanitária dos alimentos e até mesmo do ponto de vista nutricional. Mas isso ainda não é suficiente. “A política do Pnae foi definida em 1955”, diz a pesquisadora. “Os parâmetros técnicos adotados eram muito bons para a época, mas o conhecimento a respeito de bioquímica de micronutrientes e de técnicas culinárias adequadas avançou bastante nos últimos anos, e a política ficou lá atrás.” O resultado dessa defasagem é uma dieta que leva em conta apenas a quantidade de proteínas e calorias, mas não é capaz de atender às necessidades diárias de consumo de micronutrientes essenciais, como ferro, zinco e vitamina A.

A carência desses elementos pode resultar em sérios problemas de saúde, como anemia, baixo crescimento e desenvolvimento, infecções de repetição, etc. As conseqüências a longo prazo também são sérias: pode “contribuir para o desenvolvimento de muitas doenças que só vão se manifestar na fase adulta, o que também representa um grande custo social”, explica Semíramis.

A primeira etapa do estudo avaliou o estado nutricional de escolares da Vila União, um dos 18 bolsões de pobreza identificados em Campinas, e a alimentação oferecida na escola. Os maiores problemas encontrados estão relacionados ao ferro e ao zinco. “As crianças estão ingerindo em média 48% do ferro necessário e apenas 28% do zinco”, afirma. O estudo também demonstrou que a tabela de composição dos alimentos usada pelos nutricionistas não reflete a realidade dos alimentos produzidos no Brasil. Segundo a tabela, de origem norte-americana, o leite deveria conter 0,4 mg/100g de zinco, mas a análise feita pelos pesquisadores revelou que o leite oferecido nas escolas continha apenas 0,05 mg/100g.

Na segunda fase do projeto, o estudo deverá abranger mais regiões carentes e um maior número de itens da dieta será avaliado. A pesquisa também vai promover a formação de agentes multiplicadores. A ideia é que professores e outros funcionários ajudem a conscientizar os alunos e seus familiares sobre a importância da alimentação recebida na escola. “Não adianta apenas oferecer uma dieta mais rica e equilibrada.

É preciso garantir que esse alimento seja consumido de fato, o que exige um esforço adicional para incentivar hábitos alimentares mais saudáveis”, explica Semíramis. O projeto, que deverá estar concluído em 2003, vai sugerir uma série de medidas para aperfeiçoar o cardápio, incluindo combinações de alimentos que favoreçam a absorção dos micronutrientes essenciais – e uma mudança na forma de preparo que preserve melhor seu valor nutritivo. O teste será feito com os próprios alunos: eles dirão se aprovam não o sabor do novo cardápio.

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