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Infância

Disciplina x identidade

EDUARDO CESARQual o efetivo papel da escola na formação das crianças? Essa é uma das perguntas que a professora Ana Flávia Lopes Magela Gerhardt, da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tentou responder no seu trabalho Uma visão sociocognitiva da avaliação em textos escolares. O estudo considera que a tarefa de produção de texto é uma atividade complexa e decisiva para a formação da identidade do aluno porque é nela que ele pode construir sua perspectiva de mundo e travar um diálogo com o professor sobre o conhecimento apresentado em sala de aula. Partindo dessa premissa, a pesquisadora estuda uma tarefa escolar de leitura e interpretação de texto, aplicada em uma turma da quarta série do ensino fundamental, de uma escola pública do município de Barra Mansa, no Rio de Janeiro. A pesquisa conclui que a tarefa de interpretação aplicada não se interessa em criar vínculos com a realidade extraclasse vivenciada pelo aluno nem abre espaço para que ele exercite sua criatividade. De acordo com Ana Flávia, o resultado desse processo – no qual a “resposta certa” é a mais parecida com o que está escrito no livro didático – é uma “dessujeitização” do aluno e do professor. A pesquisadora faz uma comparação do seu estudo de caso com o trabalho do educador Percival Leme Brito, realizado em 1983, sobre a produção de texto no ensino fundamental e traça um diagnóstico bem parecido com o dele: a produção e a interpretação de texto são reduzidas a uma mera tarefa escolar. “Refletindo sobre essa nefasta estabilidade, não é difícil constatar que as soluções propostas para os problemas verificados olham reiteradamente para o lado errado: a instituição, ao avaliar, nunca se direciona para si mesma e seus valores, mantendo-se teimosamente a olhar o aluno como uma pessoa a quem faltam os saberes autorizados por uma elite”, conclui.

Educação & Sociedade – vol. 27 – nº 97 – Campinas set./dez. 2006

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