A proposição de adotar outros critérios além de desempenho na seleção de ingressantes no ensino superior pode parecer incompatível com a atividade científica. Conceitualmente, a ciência não tem cor, gênero, idade ou qualquer outro recorte, mas ela é uma atividade social, e a sociedade em que vivemos é desigual. Pensar em formas de assegurar o acesso aos mesmos direitos é uma das funções que a sociedade deve exercer para corrigir suas falhas e ser menos injusta.
Procurando enfrentar essa questão, um dos caminhos que o Brasil começou a percorrer há quase 20 anos é o de adotar políticas afirmativas para alunos provenientes de escolas públicas, pessoas pretas, pardas e indígenas no ensino superior público. Trazendo à tona tensões e desencadeando discussões, a política ganhou espaço, firmou-se e hoje é uma realidade. O retrato é muito mais diverso do que há 20 anos, e essa diversidade se reflete também nos temas que são objeto de investigação científica.
Reportagem de capa desta edição procura fazer um balanço da questão e apresenta como a discussão mudou. Estudos revelaram que o argumento de que há diferença de desempenho acadêmico entre cotistas e os demais alunos mostrou-se equivocado. Por outro lado, a diversidade nas salas de aula dos mais disputados cursos de ensino superior ainda não trouxe a esperada correspondência no mercado de trabalho.
Conhecer, mapear e analisar a diversidade na natureza em São Paulo, seja fauna, flora ou microrganismo, é o objetivo do programa Biota, da FAPESP, que recentemente completou 20 anos. Um de seus articuladores e peça central desse esforço acadêmico contínuo, que teve impacto nas políticas ambientais do estado e formou centenas de pesquisadores, o botânico Carlos Alfredo Joly não é otimista. Em entrevista à página 26, destaca que o programa teve impacto – “hoje sabemos onde está e o que temos de biodiversidade, mas o principal avanço no conhecimento foi sobre o funcionamento dos ecossistemas” – e avalia que a situação seria pior sem o Biota, mas preocupa-se com a falta de percepção de que o desafio de enfrentar as mudanças climáticas está intrinsecamente associado ao de preservação dessa biodiversidade.
Os mecanismos por trás das mudanças climáticas são de uma complexidade enorme, e as partes do quebra-cabeça nem sempre parecem se encaixar. Uma peça contraintuitiva surgiu na forma dos aerossóis – pequenas partículas suspensas, em grande parte decorrentes de atividades humanas, que resultam em poluição atmosférica, por sua vez associada a uma série de doenças. Surpreendentemente, essas partículas também reduziram o aquecimento do planeta provocado por gases de efeito estufa, de acordo com o mais recente relatório do IPCC, objeto de reportagem de capa da edição anterior e desdobrada em reportagem à página 54.
A pandemia da Covid-19 arrefeceu no Brasil, mas o país se aproxima do marco de 600 mil mortos. É alentador que estejamos chegando a 70% da população vacinada com ao menos uma dose. Com a perspectiva de aplicações de reforço e de imunizar adolescentes e crianças, a novidade da primeira vacina de DNA contra o novo coronavírus, desenvolvida na Índia, deve contribuir para a diversidade de opções disponíveis para o controle efetivo da doença no mundo.
Republicar