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LINGUÍSTICA

Autores preferem documentos em seus próprios idiomas

Documentos sobre biodiversidade em 37 países indicam dificuldade em ler inglês ou encontrar artigos científicos

As informações dos artigos científicos publicados em inglês não são tão aproveitadas quanto seus autores gostariam. Uma equipe internacional coordenada por Tatsuya Amano, da Universidade de Queensland, Austrália, com participação de pesquisadores brasileiros (de Santa Catarina e de São Paulo), chegou a essa conclusão após examinar 333 documentos relevantes sobre a situação da biodiversidade em 37 países ou territórios da África, Américas (incluindo o Brasil), Ásia e Europa nos quais o inglês não é o idioma oficial. Um artigo na edição de 16 de março na Nature Sustainability detalha os resultados.

Nesse estudo, publicações acadêmicas ou a chamada literatura cinzenta (documentos do governo ou empresas não controlados por editoras comerciais) escritas em língua não inglesa constituíram em média 65% das referências citadas e foram consideradas relevantes por seus autores. “Os dados sugerem que informações locais e regionais podem estar sendo ignoradas em importantes relatórios internacionais, como os do IPBES [A Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos]”, comenta o engenheiro ambiental Milton Aurelio Uba de Andrade Junior, da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável de Santa Catarina, um dos autores do estudo.

Dos 51 autores dos documentos em 35 dos 37 países ou territórios entrevistados em busca das razões desse fenômeno, 35% eram acadêmicos, 31% funcionários do governo, 20% trabalhavam em instituições públicas de pesquisa do governo, 10% em organizações sem fins lucrativos e 10% no setor privado (respostas com múltipla escolha). A maioria (75%) selecionou os documentos com base na relevância, 39% na facilidade para acessá-los e 26% na facilidade para compreendê-los (novamente, respostas múltiplas).

Para a maioria (72%), era fácil ou muito fácil entender um artigo em inglês, enquanto 24% revelaram ter dificuldade para compreendê-los. No Brasil, as referências bibliográficas dos documentos analisados contêm 69% de literatura cinzenta em português e 17% em inglês; 7% de artigos acadêmicos em português e 7% em inglês.

Os autores do estudo observaram que 54% dos diretores de áreas protegidas na Espanha e 12% dos profissionais de conservação na Suíça apontaram o idioma como uma barreira para não ler revistas acadêmicas.

“Importantes conhecimentos científicos sobre conservação também são produzidos por profissionais que muitas vezes acham difícil publicar seus trabalhos em inglês se sua primeira língua não for o inglês e, portanto, podem decidir publicá-los em um idioma diferente do inglês”, escreveram os autores.

Íntegra do texto publicado em versão reduzida na edição impressa, representada no pdf.

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