Morreu na madrugada de quarta-feira (16/05), aos 64 anos de idade, por complicações decorrentes de um câncer, o economista Fernando Cardim de Carvalho, professor emérito do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos mais respeitados pós-keynesianos do Brasil. “Cardim resgatou a abordagem usada pelo economista inglês John Maynard Keynes, baseada no método histórico-dedutivo, para analisar os problemas da economia brasileira”, destaca o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor emérito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Ao resgatar o pensamento de Keynes (1883-1946), Cardim procurou se apoiar na perspectiva histórica para tratar da incerteza como característica intrínseca dos agentes econômicos e defender uma intervenção governamental moderada na economia em cenários de crise e alto risco de desemprego.
Nascido em São Paulo em 1953, Fernando Cardim formou-se em economia na Universidade de São Paulo (USP), em 1975. Fez o mestrado em ciências econômicas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), concluído em 1978. Em 1986 obteve o doutorado em economia pela Universidade do Estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos — ou Universidade Rutgers, como é mais conhecida — sob orientação do economista Paul Davidson, um dos principais pós-keynesianos norte-americanos.
Em 1994, ingressou como professor na UFRJ, na qual formou e orientou uma geração de economistas, entre eles o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa. Cardim foi consultor de diversos órgãos públicos, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Pesquisador do Instituto Levy de Economia, do Bard College, também nos Estados Unidos, Cardim fundou em 2008 e tornou-se patrono da Associação Keynesiana Brasileira, sendo considerado um dos principais responsáveis pela divulgação da obra de Keynes no país.
Sua produção acadêmica era profícua. Dentre seus principais livros, destaca-se Mr Keynes and the post-keynesians, publicado em 1992 a partir de sua tese de doutorado. Bresser-Pereira, amigo de longa data, está coordenando a tradução da obra para o português. “Ele estava animado com a ideia da tradução”, conta. “Trocamos alguns e-mails na semana passada. Na noite de sua morte, enviei-lhe uma mensagem dizendo que havia encontrado um tradutor.”
Por sua reconhecida importância, José Cardim recebeu o título de professor emérito do Instituto de Economia da UFRJ em 2012, concedido a apenas outros quatro professores. Ao se aposentar, mudou-se com a família para Cascais, em Portugal. Deixa esposa, um filho e dois netos.
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