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Boas práticas

Editora corrige artigo sobre alívio de dor em recém-nascidos que atribuía a Mozart canção de ninar adaptada

Um artigo publicado em agosto na revista Pediatrics Research concluiu que certas canções de ninar conseguiram reduzir a dor de recém-nascidos submetidos a procedimentos dolorosos, como picadas para a retirada de sangue. Mas tanto o artigo quanto o comunicado de imprensa sobre seus resultados sofreram uma correção um mês após a publicação: as referências a Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) foram removidas do título do press release e do conteúdo do paper.

As canções utilizadas no experimento eram do álbum Bedtime Mozart: Classical lullabies for babies (Mozart na hora de dormir: Canções de ninar clássicas para bebês), com adaptações livres de obras de vários compositores, incluindo as do austríaco. A imprecisão foi detectada por um jornalista alemão que foi atraído pela manchete do comunicado de imprensa. “A questão é saber se os recém-nascidos realmente ouviram Mozart: o som do vídeo do YouTube vinculado ao press release, que supostamente contém uma peça do álbum Bedtime Mozart: Classical Lullabies for Babies, soa metálico e é difícil para um adulto suportar. A música intitulada ‘Deep sleep’ dificilmente poderia ter sido composta por Mozart”, escreveu Hinnerk Feldwisch-Drentrup, editor de ciência do jornal alemão Frankfurter Allgemeine.

Ele observou que ouvir música certamente pode ter efeitos positivos, distraindo ou canalizando a atenção. Mas criticou a ideia corrente de que as canções de Mozart em particular façam milagres, “caso contrário, uma cobertura sonora abrangente no nosso planeta poderia garantir a paz eterna”.

Feldwisch-Drentrup afirmou que os efeitos tranquilizantes das canções de Mozart são um mito disseminado e lembrou que, em uma estação de tratamento de esgotos de Berlim, já se tentou, em vão, melhorar o desempenho das bactérias em tanques de aeração tocando a ‘Flauta mágica’ como música ambiente. “No entanto, há um efeito Mozart plausível: o uso de seu nome aumenta a atenção da mídia – o estudo sobre os bebês dificilmente teria sido discutido se tivesse sido utilizada música de autor desconhecido”, escreveu o jornalista.

A editora Springer Nature, que publica a Pediatrics Research, retirou a referência a Mozart do artigo e do comunicado de imprensa e manteve uma referência genérica a “canções de ninar”. A empresa também pediu desculpas pelo transtorno aos órgãos de imprensa que reproduziram o conteúdo e noticiaram os supostos efeitos das canções de Mozart no bem-estar dos bebês.

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