Dois terços dos editores associados do Journal of Biogeography renunciaram a seus postos em agosto, em meio a uma briga com a editora Wiley, que publica o periódico. Eles consideram exorbitante a cobrança de taxas de US$ 4,8 mil para publicar um artigo em acesso aberto.
A disputa teve seus primeiros lances em junho, quando o editor-chefe Mike Dawson, pesquisador da Universidade da Califórnia, Merced, renunciou ao cargo em protesto contra as políticas de publicação da editora, mas anunciou que cumpriria o aviso prévio de seis meses previsto em seu contrato. Segundo Dawson, a editora “recusou-se a explorar soluções produtivas para um conjunto de desafios enfrentados pelo periódico”.
Editores associados passaram então a se recusar a analisar manuscritos e tentaram abrir um canal de negociação. Em um editorial publicado na revista no final de julho, eles expuseram suas discordâncias e manifestaram seus temores ante a perspectiva de que o modelo de publicação da revista, a exemplo do que acontece com outros títulos da Wiley, torne-se exclusivamente de acesso aberto. Receiam que, com a cobrança de taxas que consideram exageradas, isso vá ter um impacto na qualidade da publicação, com a exclusão de autores de países pobres e de renda média, que não conseguiriam pagar para publicar artigos.
Também há queixas sobre condições de trabalho da equipe editorial e as estratégias comerciais da editora. De modo específico, os editores criticam a iniciativa da Wiley de encaminhar automaticamente manuscritos rejeitados por uma revista para outros títulos de sua propriedade. “Os autores fornecem seu conteúdo gratuitamente para os editores e, portanto, a escolha é inteiramente deles quanto ao meio que preferem para seu trabalho. Como editores, muitas vezes somos capazes de sugerir publicações mais apropriadas para manuscritos específicos e essas publicações podem ou não pertencer à mesma família de periódicos. Nosso serviço é dirigido ao campo da biogeografia, e não à própria editora”, escreveram.
As negociações, de acordo com os editores, foram infrutíferas. A renúncia coletiva ocorreu em agosto, ao mesmo tempo que a Wiley anunciou que não esperaria os seis meses para substituir Dawson e estava trabalhando para encerrar seu contrato em 27 de agosto. Krystal Tolley, pesquisadora do Instituto Nacional de Biodiversidade de África do Sul, uma das editoras associadas que renunciaram, disse ao site Retraction Watch que as taxas cobradas pela revista são excessivas e pesquisadores como ela, que atuam em países do hemisfério Sul, “simplesmente não têm financiamento” para bancar a publicação. Embora a Wiley tenha políticas de isenção e descontos para autores de países de baixa renda, Tolley afirma que elas são “conversa fiada”, porque na prática há pouquíssimos beneficiados (ver Pesquisa FAPESP nº 327).
A editora negou que vá converter o Journal of Biogeography em modelo de acesso aberto – hoje a revista adota um esquema híbrido – e afirmou que os editores não são obrigados a encaminhar manuscritos rejeitados a outras revistas da editora.
Renúncias coletivas têm sido frequentes em editoras de periódicos científicos. Em abril, os editores de duas revistas científicas na área de neurociência, a NeuroImage e a NeuroImage: Reports, renunciaram às suas posições em protesto contra as taxas cobradas pela editora holandesa Elsevier para publicação de papers em acesso aberto. Editores do Journal of Political Philosophy, também da Wiley, renunciaram recentemente após a demissão do editor Robert Goodin. Segundo Anna Stilz, pesquisadora da Universidade de Princeton que deixou o corpo de editores da revista, a Wiley pressionava o periódico a aumentar o número de artigos em acesso aberto aceitos para publicação, a fim de melhorar sua lucratividade. “Conselhos editoriais estão exigindo, com razão, que as práticas de seus periódicos se alinhem com as normas de sua comunidade, não com as estratégias de negócios das editoras”, disse à revista Times Higher Education Gemma Derrick, ex-editora chefe da Publications MDPI, uma revista trimestral sobre publicações científicas da editora MDPI, que renunciou ao cargo em março em protesto contra mudanças na política de publicação da editora.
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