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carta da editora | 303

Educação não é privilégio

Um dos impactos mais duradouros da pandemia causada pelo novo coronavírus recai em uma área vital para todas as nações: a educação, determinante para o futuro de países em desenvolvimento como o Brasil. Ao já alto número de crianças e adolescentes sem matrícula vigente – 1,3 milhão –, teriam se somado mais 4 milhões de alunos que deixaram de estudar devido à Covid-19, segundo levantamento do Unicef com base em dados da Pnad/IBGE.

O país, que recentemente alcançou a universalização do ensino fundamental, defrontava-se com dificuldades históricas de evasão, defasagem e crescentes diferenças nos níveis de aprendizagem dos alunos. Esses problemas foram agravados pela pandemia e pela condução do seu combate no país, relata a reportagem de capa desta edição. Segundo relatório da OCDE, precisamente os países com os piores níveis de escolaridade foram os que mantiveram as escolas fechadas por mais tempo. Outro levantamento mostrou que Alemanha, Reino Unido, Dinamarca e França suspenderam as aulas por aproximadamente 90 dias e no Brasil foram mais de 260 dias de interrupção.

As previsões sobre o agravamento da desigualdade de aprendizagem no país e na América Latina e Caribe são inquietantes. Para medir as consequências da pandemia na educação, o Banco Mundial usou o conceito de pobreza de aprendizagem, ideia semelhante à da linha de pobreza monetária. Na região, considerando o impacto na educação até o início de 2021 e o fechamento das escolas por 10 meses, pode passar de 55% para 71% da população classificada como pobre de aprendizagem.

Datada de 1961, a Lei de Diretrizes e Bases é um dos principais arcabouços legais que norteiam a educação brasileira. O documento, que defende os preceitos da escola pública, obrigatória, gratuita e laica, teve como articulador central Anísio Teixeira, morto há 50 anos. Pensador, administrador e político da educação, Teixeira ajudou a construir ou dirigiu instituições centrais do sistema educacional brasileiro, como a Capes e o Inep (que hoje leva seu nome). Educação não é privilégio, título deste editorial, é o nome de um de seus livros.

Educação é um dos temas da entrevista concedida pelo engenheiro Luiz Bevilacqua, idealizador do que se tornou uma das novas instituições de ensino superior mais inovadoras do país, a UFABC. Interdisciplinar por natureza, a universidade não tem departamentos. Responsável pelos programas de engenharia civil e mecânica nos primeiros anos da Coppe/UFRJ, especialista em grandes estruturas e pontes, Bevilacqua buscou construí-las também entre a pesquisa e os desafios tecnológicos das grandes empresas.

Principal parceira da Coppe, a Petrobras procurou a instituição quando descobriu reservas petrolíferas em águas profundas, área com grandes desafios de pesquisa à época. As atividades de pesquisa relativas aos obstáculos da exploração de petróleo em grandes profundidades seguem rendendo frutos. Metodologia computacional que reúne mecânica de fluidos e inteligência artificial desenvolvida pela Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, pode facilitar o gerenciamento do escoamento de óleo e gás natural extraídos de águas profundas e ultraprofundas até as plataformas marinhas.

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