Os dilemas da Embraer são o tema do trio de reportagens que compõe a capa desta edição. A Embraer nasceu como empresa estatal em 1969, após um longo período de assimilação e desenvolvimento de competências essenciais no antigo Centro Tecnológico da Aeronáutica (1946) e no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (1950); em 1994 a empresa foi privatizada e ganhou novo impulso, alcançando um desempenho comercial que, na década seguinte, fez dela a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo. Às vésperas de seu cinquentenário, a empresa estuda nova mudança estrutural.
O dilema principal que a Embraer enfrenta resulta da proposta de compra da maioria das ações pela gigante global do setor, a norte-americana Boeing. A empresa de Seattle promete aportar novos recursos financeiros, comerciais e tecnológicos. Por outro lado, a autonomia da empresa brasileira ficaria comprometida. Enquanto alguns especialistas ouvidos pelo repórter Yuri Vasconcelos defendem que a Boeing tem mais a ganhar com a associação, e que o futuro da Embraer não depende de um possível acordo, outros dizem o inverso.
O dilema do governo brasileiro não é menor do que o da empresa. Na privatização, o Estado reteve uma ação com direitos especiais (golden share), entre eles o poder de veto sobre mudanças na estrutura societária. Além de aeronaves comerciais, a Embraer desenvolve desde a sua origem aviões militares e mais recentemente passou a se dedicar também a soluções na área de defesa; uma eventual associação poderia criar dificuldades para esses projetos.
Outra questão crucial envolve o destino do corpo técnico do que é considerada a joia da engenharia brasileira. Nenhuma empresa tem uma proporção tão alta de engenheiros entre seus funcionários e um histórico de pesquisa e desenvolvimento tão expressivo – projetou 37 dos 46 modelos de avião que fabricou em seus 49 anos. Reportagem à página 26 trata das engenharias das duas empresas e a da página 24 traz um panorama do mercado internacional de aviação.
Se a fabricação de aviões tornou o Brasil mundialmente conhecido, a produção de etanol vem sendo há 40 anos uma área em que o país também se destaca. Esse protagonismo pode ganhar novos contornos com a superação dos desafios tecnológicos enfrentados pelas empresas produtoras de etanol de segunda geração, ou etanol celulósico, que são objeto de extensa reportagem do editor Fabrício Marques. As dificuldades variam de acordo com o tipo de insumo (bagaço ou palha de cana) e as empresas correm para obter leveduras mais eficientes e baratas, equipamentos mais resistentes e processos de produção mais rápidos, com vistas a tornar o etanol celulósico competitivo com outros combustíveis, fósseis ou renováveis.
Geociências é o tema de três textos desta edição. Em entrevista, Igor Pacca conta sobre as origens da pesquisa institucionalizada em geofísica em São Paulo. Um dos primeiros professores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo, dedicou-se ao campo do paleomagnetismo, o estudo da história da Terra e do movimento dos continentes através da evolução do campo magnético do planeta. Esse campo magnético é gerado por um oceano de ferro líquido no núcleo da Terra, que cria um imenso ímã bipolar. Reportagem à página 47 fala da redução da intensidade desse campo, que possibilitaria nova inversão dos polos magnéticos do planeta, fenômeno que ocorreu pela última vez há 780 mil anos. A seção Memória resgata a história da criação dos primeiros cursos de geologia no Brasil, impulsionados pela busca de petróleo.
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