Agora há evidências de que chegou ao Brasil um fungo que em outros países da América Latina e da Ásia eliminou populações de anfíbios e, em conseqüência, quebrou o equilíbrio ecológico, favorecendo a multiplicação de insetos, dos quais esses animais se alimentam, e prejudicando a alimentação de aves, de répteis e de mamíferos, pelos quais são predados. Zoólogos da universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro e do Museu de Zoologia de Vertebrados, de Berkeley, Estados Unidos, encontraram pela primeira vez o fungo Batrachoclytrium dendrobatidis na rã-de-corredeira (Hylodes magalhaesi), uma espécie de 3 centímetros, pele castanho-escuro e ventre escuro com pintas brancas, que vive em riachos no alto de morros da Serra da Mantiqueira cobertos por Mata Atlântica, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Identificado na fase larval dessa espécie por meio de seqüências específicas de DNA, esse fungo causa deformações na boca dos girinos e, supõe-se, prejudica a metamorfose, a ponto de levar os animais à morte.
“O Hylodes magalhaesi pode ser um reservatório do fungo, que assim pode contaminar outras espécies”, diz Célio Haddad, pesquisador do Instituto de Biociências da Unesp e um dos autores da descoberta. Segundo ele, os dados são preocupantes também porque a rã-de-corredeira é uma espécie ameaçada de desaparecimento por causa da fragmentação de seu hábitat natural. Já houve relatos de extinção local de outra espécie do mesmo gênero, o Hylodes asper, a 300 quilômetros do ponto de coleta do H. magalhaesi. Embora esse episódio tenha sido atribuído às mudanças climáticas, os pesquisadores não descartam a hipótese de que possa tratar-se de um impacto desse fungo, que se propaga por meio das águas frias dos riachos que correm nas montanhas. Essa espécie de fungo, embora tenha sido detectada só agora, pode ter se instalado no país há muito tempo. “Desde 1980, quando eu ainda fazia estágio na graduação”, conta Haddad, “já encontrava girinos com a boca deformada, um dos sinais mais característicos deixados por esse fungo.”
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