LÉO RAMOSEm 2005, durante uma viagem de fim de ano, o dentista Rodrigo Elias de Oliveira resolveu conhecer o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais. Para entrar, inventou que a visita faria parte de seu projeto de doutorado sobre doenças da boca em materiais arqueológicos. À época, no entanto, Oliveira fazia mestrado na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FO-USP), sem nenhuma relação com arqueologia. “Perguntaram se eu conhecia Walter Neves”, ele conta. “Como não sabia de quem estavam falando, inventei qualquer coisa para conseguir entrar.”
À noite, de volta ao hotel, resolveu pesquisar sobre o desconhecido na internet. Descobriu que o bioarqueólogo era chefe do Laboratório de Estudos Evolutivos e Ecológicos Humanos do Instituto de Biociências da USP e agendou uma visita para quando voltasse a São Paulo. A conversa com Neves resultou em um estágio de dois anos no laboratório, durante o qual Oliveira limpou, montou e analisou fragmentos de esqueletos escavados. “Transformei em verdade a mentira contada lá atrás”, comenta.
Logo após terminar o mestrado, em 2008, Oliveira foi convidado por Walter Neves para fazer o doutorado no laboratório. Ele aceitou o convite, levando adiante a proposta de analisar doenças bucais em materiais arqueológicos, de modo a inferir a dieta e a qualidade de vida dos habitantes do deserto de Atacama, ao norte do Chile. Paralelamente ao trabalho de arqueólogo, Oliveira não deixou de atender pacientes no consultório ou de se aperfeiçoar em técnicas de odontologia. Sob orientação de Neves, Oliveira concluiu o doutorado em 2013. No mesmo ano ingressou em sua segunda especialização, agora em periodontia — tratamento de problemas na região dos dentes próxima à gengiva. Em 2015 iniciou seu pós-doutorado na FO-USP mesclando as áreas de periodontia, nutrição e bioantropologia. O conhecimento adquirido contribuiu para seus estudos sobre os dentes de remanescentes de esqueletos humanos encontrados na região de Lagoa Santa, Minas Gerais (ver Pesquisa FAPESP nº 247).
Além da odontologia e da arqueologia, Oliveira sempre se envolveu em questões sociais. De 2002 a 2008, antes e durante o mestrado, ajudou a desenvolver próteses para indivíduos acometidos por câncer de cabeça e pescoço tratados no âmbito do sistema público de saúde. Mais recentemente, Oliveira participou de um projeto de pesquisa voltado à saúde bucal dos ribeirinhos no Parque da Reserva Mamirauá, no Amazonas.“Fizemos o atendimento e a coleta de dados de saliva e de placa bacteriana dental dos moradores da região”, explica. Os dados estão sendo usados em seu estágio de pós-doutorado e no trabalho arqueológico em Lagoa Santa.
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