Imprimir PDF Republicar

EDUCAÇÃO ESPECIAL

Comunicando-se por sinais

Com a Libras, surdos aprendem melhor o português

Incluir na rede pública de educação o sistema bilíngüe de ensino aos surdos – como base para a aprendizagem do português – é o objetivo do projeto que pesquisadores da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) vêm desenvolvendo. No Brasil, são raros os profissionais do sistema público habilitados, pois a grande maioria não domina a Língua Brasileira de Sinais (Libras). O Estado mais adiantado nesse aspecto é o Rio Grande do Sul – em Porto Alegre, 40 deficientes auditivos freqüentam universidades, graças à existência, nas salas de aula, de um instrutor que atua como intérprete.

A grande maioria das instituições insiste no método convencional. “O resultado disso é negativo. Distancia o surdo de seus pares”, afirma a psicóloga Tárcia Regina da Silveira Dias, do curso de Fonoaudiologia da Unaerp. “A Libras é a primeira língua dos surdos. O português é a segunda e, portanto, tem que ser ensinado com base nos significados que os alunos adquiriram através da primeira.”

Com o apoio da FAPESP, Tárcia coordena o projeto de implantação do ensino bilíngüe em três instituições: Escola Estadual Professor Fernandes Palma, de Ribeirão Preto, Escola Estadual Sílvio de Almeida, de Batatais, e Escola Municipal de Educação Fundamental Especial Estrelinha Azul, situada em Jaboticabal. Durante a primeira fase do projeto, familiares dos alunos surdos foram treinados em Libras e, se a próxima fase for aprovada, o treinamento será estendido aos 115 profissionais – professores, psicólogos e fonoaudiólogos – que atuam junto a 125 crianças, adolescentes e adultos surdos. “É fundamental que a Libras seja ensinada por instrutores surdos e adultos, porque eles ensinam tanto a língua quanto o jeito de se comunicar e o modo de viver dos surdos”, diz a coordenadora. São pedagogos para o português escrito e , para o português falado.

Na tentativa de seguir à risca o modelo bilíngüe, consolidado na Dinamarca e na Suécia, o grupo de pesquisadores da Unaerp contratou, para o seu trabalho de extensão universitária, um instrutor formado pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis). Esse profissional treinou os cinco monitores surdos integrados ao projeto – que propõe a presença de um instrutor em cada sala de aula. “Acabou aquele fracasso do surdo na escola. O bilingüismo mostra que ele tem potencial, mas que precisa de infra-estrutura, sobretudo de intérprete.”

O aprendizado depende também de recursos que compensem a deficiência auditiva. A FAPESP financiou a compra de computadores e software s educativos e fornece recursos para a produção de materiais didáticos adequados ao ensino de Libras. “Com esse apoio, estamos tendo a possibilidade de trabalhar com projetores multimídia, que projetam filmes e até softwares de forma ampliada. As escolas são pobres e não teriam como adquirir esses equipamentos. Isso muda a qualidade do ensino.” Como lembra Tárcia, as crianças que não ouvem utilizam as imagens para conhecer o mundo.

Republicar