Imprimir Republicar

Boas práticas

Estudo aponta ignorância e inação de físicos para combater discriminação de raça e gênero

Na física, mesmo pesquisadores que se dizem comprometidos em combater a discriminação no ambiente acadêmico contribuem para que ela se perpetue, ainda que de forma não consciente. É o que mostra um estudo publicado como preprint no repositório arXiv por pesquisadoras da Universidade do Oeste de Michigan e da organização Eureka Scientific, ambas nos Estados Unidos. As autoras analisaram as respostas de 27 físicos – todos homens e cisgênero (que se identificam com o sexo biológico) – a um questionário sobre seus conhecimentos, crenças e experiências com questões de raça e gênero no ambiente de pesquisa. As entrevistas foram feitas por quatro homens brancos, para deixar os entrevistados à vontade e estimulá-los a falar de forma franca, o que talvez não ocorresse se as autoras, uma mulher branca e uma negra, fossem as interlocutoras.

Todos os físicos ouvidos se identificaram como progressistas e disseram querer reduzir a discriminação na sociedade. No entanto, suas respostas indicaram um padrão consistente de ignorância, inação e transferência de responsabilidade em relação a casos de discriminação no local de trabalho. Segundo o estudo, os entrevistados frequentemente minimizavam as experiências negativas de pessoas de grupos minoritários e encontravam maneiras de justificar por que não interviriam para interromper comportamentos de assédio ou discriminação.

Um situação hipotética apresentada aos entrevistados foi o relato de uma estudante negra que se sente isolada. Quando se senta próximo a colegas homens em aulas de física, eles se mudam para outra fileira no período seguinte. Pois a maioria dos entrevistados não viu razão para interferir na situação, dando respostas como: “Se eu fosse ela, ficaria bem, este é o mundo em que vivemos” ou “Acredite em mim, se eles são negros, estão acostumados”.

“Os entrevistados parecem genuinamente querer um mundo mais justo”, disse à revista Physics Melissa Dancy, uma das autoras do trabalho. “Ao mesmo tempo, mostram-se extremamente ignorantes quanto ao papel que desempenham na perpetuação das desigualdades.” A principal forma pela qual os participantes justificaram sua inação foi se distanciando de atos racistas ou sexistas – comportamentos discriminatórios, segundo eles, dão-se em locais onde eles não têm influência. Mesmo quando confrontados com situações sobre as quais poderiam ter influência direta, eles raramente diziam que interviriam. Alguns disseram se sentir desconfortáveis com situações de confronto. As autoras esperam que os achados estimulem ações que possam levar à equidade nas ciências físicas. “Se esses homens pudessem ser educados sobre formas de ajudar, isso transformaria a consciência sobre comportamentos racistas e sexistas, promovendo mudanças significativas”, afirmou Dancy.

Republicar