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Boas práticas

Estudo mapeia principais causas de retratação de artigos na área de química entre 2001 e 2021

Pesquisadores da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, analisaram 1.292 artigos científicos da área de química que sofreram retratação entre 2001 e 2021 e constataram um salto no número de trabalhos invalidados: eles eram cerca de 10 por ano no início do período e chegaram a 100 por ano em 2021. A análise foi publicada na revista ACS Omega, vinculada à Sociedade Americana de Química, e se baseou em um levantamento no repositório do site Retraction Watch, que contém registros de cerca de 40 mil retratações.

Mais da metade dos artigos (58,5%) foi cancelada por má conduta, sendo autoplágio e fraudes as causas principais. Erros e outros problemas que não configuram desvios éticos responderam por 26% das retratações – os demais casos ocorreram em razão de disputas por autoria, erros cometidos pelos editores ou razões que não ficaram claras.

Como a química tem um forte caráter interdisciplinar, 81% dos artigos incluíam também campos do conhecimento adicionais – e, a depender deles, o motivo das retratações variou. O plágio foi a causa mais prevalente em artigos de química associados a ciências de materiais, engenharias e física, mas não em cristalografia, que procura determinar a estrutura cristalina de sólidos para ajudar a entender suas propriedades físicas, químicas ou biológicas – o estudo específico de tais propriedades está fora de seu escopo. Nessa área, a fraude foi a razão dominante para as retratações. A cristalografia é mesmo um caso peculiar. Nos últimos anos, foram descobertas centenas de artigos descrevendo estruturas metalorgânicas e polímeros de coordenação fraudados, provavelmente produzidos por “fábricas de papers”, um tipo de serviço ilegal que vende trabalhos científicos sob demanda, quase sempre com dados manipulados ou falsificados. Em abril de 2022, o Cambridge Crystallographic Data Center (CCDC) contabilizou cerca de 800 artigos comprometidos por esse tipo de fraude.

Yulia Sevryugina, bibliotecária da Universidade de Michigan e autora principal do estudo, disse ao site Chemistry World que o mapeamento de artigos em cristalografia fraudados foi bem-sucedido porque contou com uma estrutura de armazenamento e compartilhamento de dados de pesquisa e a disponibilidade de revisores especializados. Já os casos de autoplágio, que se caracterizam pela publicação de um mesmo resultado de pesquisa em mais de uma publicação ou na cópia de trechos de trabalhos já publicados pelo autor, não chegam a comprometer registros científicos, observa Sevryugina, mas podem inflar artificialmente o desempenho de pesquisadores e lhes garantir vantagens indevidas na competição com colegas por verbas para pesquisa.

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