Janeiro foi farto em notícias de grande apelo. Entre a severa seca no Centro-Oeste e Sudeste do país e atentados no exterior, o número elevado de partos cirúrgicos – as cesarianas – chamou a atenção no Brasil. O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar decidiram no início do mês que deveriam intervir para tentar reduzir a quantidade de cesarianas desnecessárias, aquelas feitas sem indicação médica. Para coibir a prática, passará a ser exigida dos médicos uma justificativa detalhada das razões que levaram à opção pela cirurgia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um máximo de 15% de partos cirúrgicos; no Brasil, o índice geral de cesáreas é 40% nos hospitais públicos e 90% nos privados. Uma das consequências desse excesso começa a ser mais bem investigada. Pesquisadores de diferentes universidades estão colhendo evidências de que parte dessas cirurgias pode levar ao nascimento de crianças ainda sem maturidade biológica, o que inclui maior risco de desenvolver problemas respiratórios e até morrer.
Os altos números de cesarianas no Brasil não são novidade. Desde a década de 1970 eles crescem continuamente. Foram de 15%, há 40 anos, para 52% na atual década, de acordo com o relatório Nascer no Brasil, um estudo coordenado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Agora, novas pesquisas da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto indicam claramente, pela primeira vez, aumento na taxa de prematuros em razão de cesarianas desnecessárias. Foram examinados os dias e horários em que ocorreram os partos cirúrgicos, se foram realizados no sistema público ou privado, e percebeu-se que havia grande influência do fator conveniência – ou seja, parte significativa das cesarianas havia sido marcada com antecedência. A repórter Alice Giraldi e o editor de Ciência, Ricardo Zorzetto, contam os meandros dessa história.
As novidades desta edição não estão restritas à maternidade. Um trabalho de pesquisadores do Rio Grande do Sul traz novos elementos para se tentar entender o comportamento social e a formação de laços afetivos em mamíferos. A oxitocina é um hormônio importante que atua, por exemplo, na contração uterina no momento do parto. Recentemente, descobriu-se que ela pode ser importante também na atividade paterna. Traduzindo: macacos da América do Sul, cujos pais muitas vezes cuidam dos filhotes, têm alterações nesse hormônio. Esse comportamento não é comum entre mamíferos machos. A editora do conteúdo on-line da revista, Maria Guimarães, explica como se deu esse raro encontro entre um estudo evolutivo genético e experimentos comportamentais.
Os trabalhos científicos descritos acima têm complexidades que podem assustar a quem deseja seguir pelas sendas da ciência. Para mostrar que a pesquisa científica também pode ser divertida e dinâmica, um grupo de pesquisadores recriou os kits de ciência. Trata-se de uma caixa que traz um pequeno laboratório individual destinado a estudantes do ensino médio com o objetivo de estimular o interesse pela pesquisa. Por enquanto, a coleção Aventuras na Ciência tem cinco kits (física, astronomia, matemática, química e biologia) e circulou de modo restrito. O plano para este ano é levar a experiência para estudantes de 22 mil escolas públicas de todo o país. O editor-assistente Bruno de Pierro conta como essa ideia, já tão bem-sucedida nos anos 1970, está sendo retomada.
Para terminar, recomendo a leitura da entrevista do professor Elson Longo, especialista em materiais cerâmicos da Universidade Estadual Paulista, campus de Araraquara, realizada pelo editor de Tecnologia, Marcos de Oliveira. Longo sempre teve olhos para as necessidades do mundo acadêmico e das empresas e uma fina sensibilidade para selar parcerias produtivas e benéficas para os dois lados.
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