
ESARepresentação gráfica dos três satélites Swarm, da Agência Espacial Europeia, que monitoram o campo magnético da Terra desde 2013ESA
Em dezembro, a Nasa, a agência espacial norte-americana, divulgou um relatório informando que a Anomalia Magnética do Atlântico Sul (Amas), uma região do campo magnético da Terra com intensidade reduzida, havia crescido 7% nos últimos quatro anos. A partir daí, circularam notícias nas mídias sociais de que esse fenômeno, por reduzir a proteção da Terra à radiação solar, ofereceria riscos à saúde ou poderia até mesmo intensificar as enchentes no Rio Grande do Sul. Não há motivo para apreensão, de acordo com os especialistas ouvidos por Pesquisa FAPESP.
“Eventuais falhas no campo magnético pouco afetam as pessoas ou o clima na Terra”, disse o geofísico Gelvam Hartmann, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “A radiação solar pode até atravessar o campo magnético e atingir aparelhos eletrônicos em órbita terrestre, mas a quantidade de partículas carregadas que chega à superfície é muito pequena.”
Outra ideia que caiu por terra: até 2023, pensava-se que o vento solar na região da Amas poderia atingir voos intercontinentais, em altitudes de cerca de 13 quilômetros (km). Pesquisadores alemães, no entanto, encontraram baixos níveis de radiação solar em um voo de Hamburgo, na Alemanha, para Mount Pleasant, nas Ilhas Malvinas, passando pela Amas, conforme relatado em artigo publicado em junho de 2023 na revista científica Scientific Reports.
Detectada no final dos anos 1950 pelos primeiros satélites de órbita terrestre baixa, a Amas é monitorada de perto por pesquisadores dos Estados Unidos, da União Europeia e da China, preocupados com seus eventuais efeitos em satélites, espaçonaves e estações espaciais.
O astronauta norte-americano aposentado Terry Virts relatou ter visto flashes de luz intensos sem som ao passar pela Amas em 2010, em seu primeiro voo pilotando o ônibus espacial Endeavour, da Nasa. Naquele momento os computadores sofreram danos consideráveis e os astronautas foram expostos à radiação elevada, como Virts revelou em fevereiro de 2018 à rede britânica BBC. Por causa de relatos como esse, a anomalia ganhou o apelido de “triângulo das Bermudas do espaço”.