Em 2020, pesquisadores vinculados a instituições dos Estados Unidos, Índia e África do Sul publicaram um artigo na revista Gondwana Research anunciando a descoberta de um raro registro fóssil de Dickinsonia tenuis, um ser primitivo achatado e ovalado que habitou a região onde hoje é China, Rússia, Ucrânia e Austrália por volta de 550 milhões de anos atrás. O material estampado em uma rocha foi encontrado no teto de uma caverna no sítio arqueológico Bhimbetka Rock Shelters, na cidade de Bhopal, na Índia. De acordo com os autores, o achado confirmaria que o supercontinente Gondwana, que agrupava a América do Sul, África, Madagascar, Índia, Oceania e Antártida, se formou há cerca de 550 milhões de anos e indicaria que o D. tenuis teria habitado latitudes temperadas e subtropicais.
A descoberta, contudo, revelou-se um erro científico, conforme outro artigo publicado em fevereiro na mesma Gondwana Research. Depois de visitarem a caverna no final do ano passado e estudarem o registro por meio de técnicas como espectroscopia Raman e difração de raios X, pesquisadores das universidades da Flórida, nos Estados Unidos, e Rajasthan, na Índia, concluíram que o material é, na verdade, uma colmeia moderna de abelhas-gigantes-asiáticas (Apis dorsata), que havia se agregado à superfície da rocha fraturada, dando origem a uma imagem semelhante ao do ser primitivo. O trabalho apontou semelhanças estruturais entre a suposta D. tenuis e estoques de mel e pólen em ninhos de abelhas deteriorados recentemente. A velocidade da degradação do registro em apenas dois anos, algo incomum para um fóssil, já era um indicador de que ele não estava realmente gravado na pedra. Os autores do paper original admitiram o engano. “É raro, mas essencial, que os cientistas admitam seus erros quando novas evidências são descobertas”, disse em comunicado o geólogo e paleontólogo australiano Gregory Retallack, pesquisador da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, um dos autores do artigo de 2020, segundo o jornal on-line britânico The Independent.
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