Muita gente precisa estar na rua para que uma parte da população paulistana cumpra a recomendação de sair apenas quando necessário – a chamada quarentena, instituída desde 17 de março pelo governo do estado e agora estendida até 10 de agosto.
São aquelas empregadas em serviços essenciais, como comércio de alimentos, farmácias, hospitais, segurança, entregas, entre outras atividades. Há também pessoas que não conseguem seguir a quarentena: precisam sair para garantir o sustento da família.
Essa circulação para o trabalho está fortemente associada à concentração de casos de Covid-19 na cidade, de acordo com análise feita no final de junho pela equipe do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), coordenado pela urbanista Raquel Rolnik, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). O grupo mapeou onde vivem aqueles hospitalizados por Covid-19 e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no fim de maio e comparou às linhas de transporte público com maior fluxo.
“Não há uma política de cuidado com o exército de pessoas que trabalham para que outras possam ficar em casa”, diz Rolnik, que defende a ampliação temporária de calçadas e dos pontos de ônibus para ajudar a combater aglomerações nas ruas, entre outras medidas. Para a urbanista, a abertura do comércio acirra o problema, já que os cuidados são mais eficazes para proteger os consumidores do que os vendedores. “O comerciário fica o dia todo em ambiente fechado, entrando em contato com uma sucessão de pessoas, e depois volta para casa.”
O fotógrafo Léo Ramos chaves amostrou alguns desses rostos, desde o início do isolamento, neste ensaio.