Imprimir Republicar

Boas práticas

Formação de investigadores

Microbiologista cria fundo para patrocinar pesquisadores interessados em analisar fraudes acadêmicas

Em 2024, a microbiologista holandesa Elisabeth Bik foi a ganhadora de uma das categorias do Prêmio de Promoção da Qualidade em Pesquisa concedido pela Fundação Einstein, em Berlim, Alemanha. Ela recebeu o reconhecimento por seu trabalho no rastreamento de erros e fraudes em artigos científicos, sobretudo imagens duplicadas ou manipuladas. Agora, Bik anunciou que vai destinar o dinheiro do prêmio – US$ 200 mil, o equivalente a R$ 1,1 milhão – para patrocinar a formação de outros investigadores de fraudes como ela. A ideia é financiar pesquisadores em início de carreira interessados em aprender técnicas de detecção de erros ou fraudes em trabalhos científicos, oferecendo a eles recursos para pagar cursos e treinamentos, comprar softwares, produzir material educativo ou viajar para participar de conferências sobre integridade.

O Fundo de Integridade Científica Elisabeth Bik será gerenciado pelo Centro de Integridade Científica, organização sem fins lucrativos vinculada ao site de notícias Retraction Watch. Bik disse à revista Science que há cerca de 50 pesquisadores no mundo que se dedicam com regularidade, muitos de forma voluntária, a rastrear casos de má conduta, procurando indícios de imagens e dados adulterados e de artigos produzidos por serviços fraudulentos conhecidos como fábricas de papers. “Manter a integridade científica exige um esforço de equipe e, com esse apoio, quero reunir ainda mais detetives perspicazes para manter a pesquisa no caminho certo”, afirmou. Segundo a microbiologista, há uma lacuna no apoio a detetives de fraudes, já que os recursos públicos para promoção da integridade científica são aplicados em projetos de pesquisa e de educação, não na investigação direta de violações. O número e o valor das bolsas a serem concedidas ainda não foram definidos, mas Bik reconhece que serão recursos modestos, uma vez que os rendimentos dos US$ 200 mil não permitirão iniciativas de grande porte, mas espera engrossar o fundo com a contribuição de outros doadores.

Bik se tornou conhecida em 2016 quando divulgou os resultados de um esforço para analisar imagens de testes western blot, método usado na biologia molecular para identificar proteínas, divulgadas em 20.621 artigos da área biomédica publicados em 40 revistas científicas entre 1995 e 2014. O estudo encontrou imagens duplicadas em 782 papers, 3,8% do total. Em entrevista concedida a Pesquisa FAPESP em 2021, ela disse que uma das principais dificuldades de seu trabalho é identificar artigos produzidos por fábricas de papers, que produzem imagens falsas e as incorporam a artigos científicos fraudulentos. “É muito difícil conseguir reconhecê-las. São imagens únicas, criadas por inteligência artificial”, afirmou. “As fábricas de papers usam várias imagens reais para montar uma imagem única – e falsa. Você percebe alguma coisa errada, mas não consegue determinar o que é.”

Republicar