Se hoje é possível tomar um sorvete de cupuaçu em São Paulo, longe da Amazônia, onde esses frutos pendem de árvores que podem chegar a 20 metros de altura (Theobroma grandiflorum), agradeça a uma história que parece ter começado cerca de 8 mil anos atrás. “Comunidades indígenas cultivam plantas há milênios, e nosso estudo revela que o cupuaçu, antes considerado uma espécie silvestre, é na verdade uma espécie domesticada a partir de um parente silvestre, o cupuí”, conta o botânico José Rubens Pirani, da Universidade de São Paulo. A conclusão saiu do trabalho de doutorado, orientado por ele, de Matheus Colli-Silva, atualmente pesquisador no Jardim Botânico Real de Kew, no Reino Unido. A polpa e a semente do cupuí (T. subincanum) são parecidas com as do cupuaçu, embora o fruto seja menor. Nos últimos dois séculos, o cupuí passou por um segundo pulso de domesticação, que ampliou sua distribuição a partir do Alto/Médio rio Negro para o resto da Amazônia. A alteração da planta para uso humano teria começado antes que o cacau, outra espécie aparentada, passasse pelo mesmo processo. O achado indica que a polpa de T. cacao era apreciada pelas comunidades indígenas muito antes de suas sementes atraírem interesse internacional para o desenvolvimento do chocolate, quando então a planta foi sujeita à seleção para cultivo (Communications Earth & Environment, 1º/11).
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