A possibilidade de interferir no DNA escolhendo a dedo o que se deseja mudar no organismo humano começa lentamente a se tornar realidade. Há pesquisadores de todo o mundo, inclusive no Brasil, preparando estratégias que poderão se transformar em terapias eficazes para eliminar ou amenizar determinadas doenças. O que se quer é silenciar, alterar ou substituir genes que provocam problemas. No ano passado, pela primeira vez cientistas chineses anunciaram ter desativado um gene para melhorar a condição imunológica de um paciente com câncer e HIV. Os resultados foram apenas parcialmente positivos, mas a experiência indicou que é possível realizar o procedimento, aparentemente sem problemas. Outros testes com seres humanos estão em andamento, principalmente na China e nos Estados Unidos.
A ferramenta usada é a técnica de edição de genes conhecida como Crispr-Cas9. A ideia é cortar o material genético das células em pontos específicos e alterá-lo. Como sempre ocorre nos momentos de efervescência científica, grupos de pesquisa começaram uma corrida para ver quem conseguiria os melhores – e mais seguros – resultados. Há poucos anos, as primeiras experiências foram bem-sucedidas ao tentar corrigir genes de células, animais de laboratório e até embriões humanos que seriam descartados; agora, começaram os tratamentos experimentais.
Em São Paulo, há grupos de várias universidades utilizando a Crispr não só para estudar a melhor forma de tratar doenças como também trabalhando para produzir órgãos de animais que possam ser transplantados para pessoas. Nesse caso, a proposta é desativar genes que acionam o sistema de defesa e provocam a rejeição do órgão. Um rim suíno geneticamente modificado poderia tirar um paciente da fila de transplante, por exemplo.
A Crispr é a estrela do momento, embora não seja a única ferramenta disponível. Há um caso especialmente curioso, ocorrido nos Estados Unidos, com reflexos no Brasil, indicando que ainda há muito a ser pesquisado e resolvido. Uma empresa de biotecnologia alterou o genoma de um touro para que seus descendentes nascessem sem chifres (mochos). Há demanda pela produção de gado leiteiro mocho por ser mais fácil de manejar, entre outras razões. Os pesquisadores utilizaram a técnica Talen, em que um plasmídeo – molécula de DNA de origem bacteriana – foi usado para alterar o genoma. Esse touro teve dois descendentes mochos. Uma empresa brasileira chegou a iniciar o processo de importação de sêmen de um dos touros geneticamente alterados, até que testes mostraram que o DNA do plasmídeo havia sido incorporado ao genoma do animal, algo imprevisto e altamente indesejável.
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As queimadas que ocorrem todos os anos na Austrália são previsíveis e naturais, ao contrário das que castigam a Amazônia. Os níveis anormais dos incêndios que começaram antecipadamente em setembro de 2019 no território australiano, e ainda não foram extintos, são vistos por alguns climatologistas como consequência dos extremos do clima ocasionados provavelmente pelo aquecimento global. Thelma Krug, a matemática brasileira que é uma das três vice-presidentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), avisa que no próximo relatório da entidade é esperado que novos estudos científicos permitam, com grande grau de confiança, atribuir vários eventos extremos à mudança do clima.
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