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Julgamentos lenientes

Médicos que prescrevem opioides em excesso raramente perdem licença nos Estados Unidos

Órgãos que disciplinam a atividade médica nos Estados Unidos têm sido tolerantes com profissionais que prescrevem opioides em excesso, de acordo com um estudo publicado por pesquisadores da Escola de Negócios Bayes, em Londres, Inglaterra, e a Universidade Northwestern, em Evanston, Estados Unidos. Foram analisados 100 casos de má conduta envolvendo a prescrição abusiva desses medicamentos em uma unidade da federação dos Estados Unidos que não foi revelada no trabalho, por razões de privacidade. Desses, apenas seis resultaram em revogação da licença dos médicos. Nos demais, os profissionais puderam continuar exercendo a medicina, ainda que alguns tenham sofrido repreensões ou suspensões temporárias. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, mais de 260 mil pessoas morreram no país entre 1999 e 2020 por overdose de medicamentos opioides prescritos de forma legal, alegadamente para o tratamento da dor ou para anestesia, no que se convencionou chamar de “epidemia dos opioides”.

De acordo com o estudo, publicado na revista Organization Science, a tolerância é estimulada por regulamentos disciplinares excessivamente burocráticos e morosos e pela simpatia que os acusados que demonstram remorso costumam exercer sobre seus julgadores, entre outros fatores. Ece Kaynak, professor de comportamento organizacional da Escola de Negócios Bayes, disse ao serviço de notícias Eurekalert que um dos objetivos do estudo foi avaliar até que ponto sistemas de autorregulação de conselhos profissionais são eficazes na responsabilização de pares que cometem violações. “Com as medidas em vigor para tornar esses sistemas transparentes ao público, esperávamos que a autorregulação fosse mais eficaz”, afirmou.

“A transparência não é uma panaceia para alcançar a responsabilização”, complementou o outro autor do estudo, Hatim Rahman, professor de gestão e organizações da Universidade Northwestern. “Nosso estudo sugere que os órgãos reguladores e profissionais, como médicos, advogados e cientistas, precisam investir em sistemas que envolvam todas as partes interessadas para garantir que os culpados de má conduta sejam responsabilizados.”

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