Imprimir Republicar

Boas práticas

Má interpretação

Revista esclarece que artigo não liga vacinas contra a Covid a excesso de mortes após a pandemia

A revista científica BMJ Public Health publicou uma “expressão de preocupação” relacionada a um artigo divulgado em julho. Segundo o paper, a mortalidade em vários países permaneceu mais alta do que o esperado entre os anos de 2020 e 2022, mesmo após o final da pandemia. A expressão de preocupação é recurso usado por periódicos para alertar leitores de que o conteúdo de um paper está sendo reanalisado e funciona como uma antessala para a publicação de correções e até a retratação do artigo, se o problema for grave. No artigo em questão, embora sua qualidade científica esteja sendo reavaliada, o problema principal foram as interpretações distorcidas que ele gerou.

O estudo concluiu que “o excesso de mortalidade permaneceu elevado no mundo ocidental durante três anos consecutivos, apesar da implementação de medidas de contenção e das vacinas contra a Covid-19” e conclamou governos a “investigar exaustivamente as causas subjacentes ao excesso de mortalidade persistente”. Embora o trabalho se limite a apresentar números, reportagens e postagens sobre ele relacionaram as vacinas com o aumento de mortes, conforme relatou o site Retraction Watch.

O jornal britânico Telegraph divulgou uma reportagem com a manchete: “As vacinas da Covid podem ter ajudado a alimentar o aumento do excesso de mortes”. O tabloide New York Post informou que “o excesso de mortalidade ‘permaneceu alto’ desde 2020, apesar da implementação generalizada de vacinas contra a Covid-19 e de várias medidas de contenção”, e depois se corrigiu, afirmando que “o estudo não analisava o impacto da vacinação nem estabelecia uma ligação entre a mortalidade e o estado de vacinação.”

Com a repercussão, a BMJ Public Health achou por bem publicar a expressão de preocupação também como uma forma de esclarecimento: “Vários meios de comunicação afirmaram que essa pesquisa estabelece uma ligação causal direta entre a vacinação contra a Covid-19 e a mortalidade. O estudo não estabelece tal ligação. Os investigadores analisaram apenas as tendências do excesso de mortalidade ao longo do tempo, não as suas causas. Embora os investigadores reconheçam que os efeitos secundários são relatados após a vacinação, a pesquisa não apoia a afirmação de que as vacinas tenham sido um fator importante que contribuiu para o excesso de mortes desde o início da pandemia. De fato, as vacinas têm sido fundamentais para reduzir quadros graves da doença e mortes associadas à infeção por Covid-19”.

Republicar