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Carta da editora | 311

Manifestações no teatro

O Teatro Municipal de São Paulo foi escolhido por Emicida para a gravação de um show que é o fio condutor do documentário AmarElo – É tudo para ontem. Para falar dos negros que protagonizaram a história brasileira dos últimos 100 anos, mas foram invisibilizados, em suas palavras, o artista optou pelo teatro que foi palco em 1922 de uma manifestação exigindo feições mais nacionais para a produção artística: a Semana de Arte Moderna. Explicando sua escolha, Emicida declarou em entrevista ao El País Brasil que o escritor Mário de Andrade, figura central do movimento, por mais próximo que fosse da elite, percebera que a cultura popular era a melhor lente para entender a realidade do Brasil.

A Semana se tornou o símbolo a partir do qual se construiu uma narrativa da eclosão do modernismo no país. Pesquisadores têm buscado aspectos desconhecidos dos principais autores, artistas e obras, ou promovem releituras da historiografia do movimento. Em três reportagens, Christina Queiroz traz recentes reflexões acerca dessa narrativa em constante reelaboração, discutindo o seu papel no processo de renovação da cultura brasileira, o protagonismo feminino e as experiências modernistas Brasil afora.

Um dos desdobramentos da Semana, a antropofagia advogava a assimilação de diferentes culturas, fossem europeias ou indígenas. Tupy or not tupy, that is the question é a frase mais conhecida do Manifesto antropófago lançado pelo grupo de Oswald de Andrade em 1928. Pesquisas recentes mostram que Mário de Andrade considerava inadequado o uso de línguas indígenas para fazer blagues e que as propostas desse movimento eram insuficientes para entender o Brasil.

Os povos falantes da língua tupi se dispersaram por toda a América do Sul em um movimento territorial iniciado há quase 3 mil anos e podem ter representado uma população de 5 milhões de indivíduos. Análises das características genéticas de tupi atuais sugerem que esse movimento foi acompanhado por uma explosão populacional. Além de ajudar a entender a expansão dos povos tupis, que produziam objetos de cerâmica e tinham um modo de vida horticultor, esses dados, comparados com os de etnias falantes de outras línguas, contradizem a ideia bastante disseminada de que a barreira física imposta pela cordilheira dos Andes impediu a mistura genética das populações de ambos os lados.

A disseminação da ômicron trouxe novas preocupações em um momento de ampla retomada das atividades. Dados ainda iniciais sugerem que a nova variante é mais transmissível e pode ser menos agressiva que as anteriores. A pandemia de Covid-19 completa dois anos, e a médica Eloisa Bonfá conta como foi liderar o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo no enfrentamento do vírus Sars-CoV-2. Maior complexo hospitalar da América Latina, o HC se reorganizou, emprestou equipamentos e equipes, ampliou sua capacidade de atendimento, realizou pesquisas, levantou recursos.

Neste último editorial escrito em 2021, para a primeira edição de 2022, agradecemos a todos e todas que leram reportagens, ouviram programas ou assistiram a vídeos de Pesquisa FAPESP. Sua participação é fundamental para a difusão do conhecimento científico e esperamos continuar com essa colaboração no ano que se inicia.

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