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Mayana Zatz e Cristiane Segatto

Mayana Zatz e Cristiane Segatto

Geneticista e jornalista discutem erros e acertos da mídia na cobertura das células-tronco embrionárias

Cristiane e Mayana: o desafio de informar sem gerar falsas expectativas

Marcia MinilloCristiane e Mayana: o desafio de informar sem gerar falsas expectativasMarcia Minillo

O apoio de amplos setores da mídia foi fundamental para a aprovação em 2005 da lei que autorizou estudos com células-tronco embrionárias e também para a derrubada no Supremo Tribunal Federal (STF), há três meses, da Ação Direta de Inconstitucionalidade que tentou neutralizar a lei e barrar as pesquisas. Mas a imprensa também cometeu deslizes, alardeando esperanças de tratamento com as células-tronco que a ciência não autorizava propagar. Esse diagnóstico emergiu no debate “Células-tronco embrionárias e mídia”, que reuniu no dia 6 de julho a geneticista Mayana Zatz, pró-reitora de Pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, e a jornalista Cristiane Segatto, repórter especial da revista Época, dentro da programação cultural da exposição Revolução genômica organizada pela revista Pesquisa FAPESP. “A imprensa esteve escandalosamente ao nosso lado e isso fez toda a diferença”, disse Mayana, conhecida como uma ativista da liberdade nas pesquisas.

Segundo ela, a mídia cumpriu um papel inestimável ao dar voz aos cientistas e ajudar a explicar para a população o que eram essas pesquisas. “E também mostrou para os políticos a importância dessas pesquisas”, completou. Mayana relembrou no debate as origens de seu interesse pelas células-tronco embrionárias. “Trabalho com doenças genéticas, especificamente com moléstias neuromusculares, que atingem uma em cada mil pessoas. Por causa de um defeito genético, essas doenças levam a uma degeneração progressiva da musculatura”, explicou. Segundo ela, são mais de 50 doenças diferentes e as formas mais graves causam morte na primeira ou segunda década de vida. “O envolvimento com esses pacientes me motivou a batalhar pelas pesquisas com células-tronco. Isso porque, pela primeira vez, comecei a ver nessas pesquisas uma esperança de tratamento”, disse Mayana.

De forma didática, a pesquisadora propiciou aos espectadores a chance de relembrar ou tomar o primeiro contato com os conceitos científicos que embasam o debate. Iniciou descrevendo o surgimento das células-tronco embrionárias. “Cada um de nós surgiu a partir da fecundação de um óvulo que sobreviveu. A célula começa a se dividir, primeiro em duas, duas viram quatro, e aí temos um embrião de oito células. Essas oito células são chamadas células-tronco totipotentes. Por que totipotentes? Porque qualquer uma delas, caso seja inserida num útero, tem potencial para tornar-se um ser completo”, disse Mayana. O embrião, prosseguiu a professora, segue se dividindo, até que, na fase de 64 a cem células, aproximadamente cinco dias depois da fecundação, forma o chamado blastocisto. “Ocorre uma primeira diferenciação. As células externas vão se transformar em placenta e membranas embrionárias, enquanto as células internas são chamadas células-tronco pluripotentes. Elas têm o potencial de formar todos os tecidos do corpo, mas já não têm o potencial de formar um ser completo”, explicou Mayana.

Depois, com 14 a 16 dias, desponta uma estrutura chamada de gástrula, com os três folhetos embrionários. O endoderma, que é a parte mais interna, vai formar  o pâncreas, o fígado, a tireóide, o pulmão. O mesoderma dará origem à medula óssea, aos músculos, ao coração e aos vasos. E o ectoderma que vai formar pele, neurônios, hipófise, olhos, orelhas. “Até 14 dias, não há nenhum resquício de célula nervosa. É a partir do décimo quarto dia que elas começam a se formar. Por isso, os países que aprovaram essas pesquisas permitiram que se utilizassem embriões de até 14 dias”, disse a professora. Após essa fase, tem início a diferenciação em tecidos. Forma-se, então, o tecido adiposo, ósseo, músculo e depois os órgãos. “Descobrir os mecanismos que norteiam a diferenciação é a grande interrogação dos pesquisadores. Controlar esse processo é o que as pesquisas no mundo todo estão fazendo agora”, afirmou a pesquisadora. O que se sabe, segundo ela, é que após a diferenciação todas as células seguintes têm as mesmas características. “As filhas da célula de fígado vão ser todas células de fígado e assim por diante”, afirmou. Embora os genes sejam os mesmos em todos os tecidos, a expressão desses genes é diferente entre um tecido e outro. “Alguns genes ficam ativos e outros ficam silenciados. Esse silenciamento faz um tecido ser diferente do outro e isso é um processo extremamente bem controlado, caso contrário não teremos uma célula funcional”, explicou.

Fraude
A esperança dos cientistas é conseguir manipular as células-tronco a ponto de gerar células pancreáticas sob medida capazes de devolver aos diabéticos a capacidade de produzir insulina, ou produzir neurônios motores para regenerar as vítimas de lesões de medula, para citar dois exemplos. “Até hoje, ninguém conseguiu fazer isso com células-tronco adultas”, disse Mayana. A pesquisadora explicou a diferença entre células-tronco embrionárias e adultas. As embrionárias podem ser obtidas de embriões congelados que sobram em clínicas de fertilização. Ou então pela chamada clonagem terapêutica, que é a transferência de núcleo de uma célula diferenciada para um óvulo sem núcleo. “Houve uma equipe de cientistas coreanos que afirmaram ter conseguido, e chegaram a publicar suas experiéncias em revistas de alto impacto, mas depois se viu que era uma fraude”, afirmou Mayana. Se bem-sucedida, a clonagem terapêutica permitiria gerar células-tronco com as mesmas características genéticas de um indivíduo do qual foi retirada a célula, com o objetivo de substituir órgãos ou tecidos doentes sem risco de rejeição. “Trata-se de uma tecnologia muito difícil e ainda não alcançada em seres humanos, que, creio, será o futuro da terapia celular por medicina regenerativa. A boa notícia é que algumas células do nosso corpo permanecem com características de células-tronco. São as chamadas células-tronco adultas. Temos células-tronco adultas na polpa do dente-de-leite, na medula óssea, no tecido adiposo, no cordão umbilical e em outros tecidos e órgãos, pâncreas, fígado”, afirmou Mayana. A má notícia, ela lembrou, é que as células-tronco adultas não têm o mesmo potencial que as células-tronco embrionárias, embora sejam importantes para formar alguns tecidos. “Nós estamos trabalhando ativamente com elas. As embrionárias podem formar todos os tecidos do corpo, enquanto as adultas formam alguns, mas não todos”, afirmou.

A clonagem da ovelha Dolly, em 1996, foi essencial para abrir essa perspectiva. “A revolução foi mostrar que células já diferenciadas de um mamífero poderiam voltar a ser reprogramadas, voltar a ser totipotentes e formar um animal completo”, disse Mayana. Ela explicou como a ovelha foi clonada. Primeiro, retirou-se o núcleo de uma célula da glândula mamária de uma ovelha. Depois, esse núcleo celular foi introduzido num óvulo sem núcleo. Ocorreu a fusão e formou-se o embrião, que foi colocado no útero de uma outra ovelha. Esse processo deu origem a Dolly, cópia idêntica da ovelha que cedeu o núcleo da célula mamária. Não foi, contudo, uma tarefa simples. Houve 277 tentativas até que se chegasse a uma ovelha viável. “Além disso, Dolly morreu precocemente, aos seis anos de idade. Ela tinha artrite e embora os pesquisadores que fizeram a Dolly garantam que sua morte não foi por causa da clonagem, ela tinha doenças de ovelha mais velha”, afirmou Mayana. Após a experiência da clonagem da ovelha e de outros bichos, segundo a pesquisadora, começou-se a falar em clonagem de seres humanos. Um médico italiano, Severino Antinori, anunciou em abril de 2002 que o primeiro clone ia nascer em novembro daquele ano. “Como seria a clonagem reprodutiva humana?”, perguntou Mayana à platéia, para responder: “Vamos imaginar um bebezinho, ou pode ser um adulto, do qual se tira uma célula, tira-se o núcleo, coloca-se em um óvulo sem núcleo e se houver fusão, você tem também um embrião, insere-se em um útero humano, e aí você vai ter n cópias do bebezinho”. Um outro grupo, a seita dos raelianos, também anunciou que estava fazendo clonagem reprodutiva e até se propunha a vender equipamentos pela internet para fazer a clonagem em casa. “A proposta deles era ótima”, disse Mayana. “Diziam que você poderia se clonar e ter um corpo novo e manter a sabedoria das vidas anteriores. Que maravilha: eu quero ser a Gisele Bündchen! Bom, quais seriam as implicações éticas da clonagem reprodutiva humana? O risco biológico é enorme, pelo que a gente viu das pesquisas com animais. A tecnologia não está nem disponível em humanos, mas se tivesse disponível é impensável o risco de fazer uma clonagem reprodutiva humana”, afirmou.

Em meio àquele frisson, a Academia Brasileira de Ciências pediu que Mayana ajudasse a escrever um documento que estava sendo redigido por pesquisadores de vários países sugerindo o banimento da clonagem reprodutiva. “Estava todo mundo muito preocupado com a clonagem reprodutiva. E eu disse: estou muito menos preocupada com isso, porque há consenso entre os pesquisadores de que isso é uma loucura. E acho muito mais importante permitir as pesquisas com células-tronco embrionárias”, lembra-se. A geneticista e outros colegas ajudaram a escrever o documento condenando a clonagem reprodutiva, mas apoiando as pesquisas com células-tronco embrionárias. O texto foi subscrito por 63 países. “A revolução da Dolly mostrou realmente que clonagem reprodutiva é uma loucura, mas ela abriu novas perspectivas de tratamento com células-tronco que podem ser obtidas tanto de embriões congelados que sobram nas clínicas de fertilização quanto por clonagem terapêutica”, disse Mayana.

No Congresso
Depois disso Mayana Zatz envolveu-se na mobilização pela aprovação da Lei Nacional de Biossegurança no Congresso Nacional, que permitiria as pesquisas com células de embriões, mas foi rejeitada pela Câmara. “Teve início a minha peregrinação em Brasília. Comecei a participar de audiências públicas e a conversar com senadores, porque a lei voltou ao Senado para ser reescrita. Nós visitamos os senadores, um por um, para tentar explicar a importância dessa lei. E ela acabou aprovada no Senado no final de 2004 com 96% dos votos favoráveis”, ela lembra. O próximo passo era uma nova votação na Câmara dos Deputados, mas o então presidente da Casa, o deputado Severino Cavalcanti, ligado à Igreja Católica, hesitava em colocar o projeto em pauta. “Tivemos uma reunião com o Severino e ele prometeu que ia colocar a lei para votar’”, disse a pesquisadora.

Em março de 2005 a lei foi aprovada por 85% dos deputados e, em seguida, sancionada pelo presidente da República. Proibia a clonagem de embriões sob qualquer hipótese, mas autorizava a pesquisa com embriões congelados que seriam descartados nas clínicas de fertilização in vitro. Mas uma ação de inconstitucionalidade contra o uso de embriões apresentada em maio de 2005 pelo procurador-geral da República, Claudio Fonteles, voltou a trazer insegurança para os pesquisadores – e Mayana retomou a mobilização, no Supremo Tribunal Federal. Ela participou ativamente da audiência pública em que o relator da ação, o ministro Carlos Ayres Britto, ouviu médicos, especialistas em bioética e pacientes sobre o uso das células-tronco. A pesquisadora também estava em Brasília, acompanhada de seus pacientes, nos dois momentos em que o Supremo avaliou a ação, até a vitória em maio passado.

A jornalista Cristiane Segatto disse que, em 13 anos de experiência acompanhando assuntos de saúde e de ciência, jamais cobriu um tema que tenha despertado um debate tão grande, polêmico e emocionante quanto as células-tronco. “Não é difícil entender por que esse tema mexeu com os corações e mentes do Brasil”, afirmou a jornalista. “Imaginem as células-tronco, aquelas coisinhas minúsculas que têm o potencial de se transformar em qualquer tecido do corpo humano. Isso, por natureza, já é uma coisa espetacular. Agora imaginem a possibilidade de um cientista interferir nesse processo e domar essas células para que elas se transformem no tecido desejado e com isso poder restaurar corações, fígados, curar doenças. Isso parece mágica. Agora imaginem que essas células só estão disponíveis em embriões congelados nas clínicas de fertilização, o que atrai uma forte oposição dos grupos religiosos. Isso cria uma tensão entre vários direitos, como o direito à liberdade de pesquisa, à saúde, à expressão religiosa, à vida”, disse Cristiane. Esse enredo, ela disse, é tão maravilhoso que a imprensa não escaparia de investir nele. A questão é a forma como a imprensa brasileira cobriu isso. “Será que ela informou ou criou falsas esperanças?”, indagou a jornalista.

Na opinião dela, a cobertura foi bastante heterogênea. Em alguns veículos, como as redes de televisão e de rádio, obrigados a dar informação de uma forma rápida e sintética, muitas vezes os conceitos ficavam mal explicados e, segundo Cristiane, tendiam um pouco para o espetáculo. “As reportagens davam a impressão de que as células eram sementes mágicas que os cientistas tinham total domínio sobre elas e que só não estavam podendo trabalhar porque havia uns ogros, uns atrasados ligados à Igreja, que impediam o avanço da ciência. Mas que assim que os cientistas pudessem colocar as mãos nessas células, logo os pacientes seriam salvos. Isso é uma simplificação bárbara da realidade”, ela exemplificou. Cristiane afirmou, porém, que ao longo do tempo a imprensa foi ganhando domínio sobre o assunto e a qualidade das informações melhorou. “Nos jornais, principalmente, a qualidade da informação melhorou muito. Mas às vezes pendia para o outro extremo, que era o hermetismo”, afirmou.

A jornalista convidou a platéia a refletir sobre o trabalho das três principais revistas semanais de informação: Veja, Época e IstoÉ. “De todos os tipos de veículos da mídia, eu acho que as revistas semanais são que teoricamente têm mais tempo e atraiam condições para fazer um trabalho mais completo, mais profundo, ir além da notícia, fazer uma coisa mais analítica”, explicou. Segundo Cristiane, o problema para este segmento da imprensa tem sido a dificuldade de criar chamadas de capa que traduzam o conteúdo da reportagem e ao mesmo tempo atraíam o leitor. “Muitas vezes, o conteúdo da matéria é bom. Ela não induz a falsas esperanças e faz todas as ressalvas necessárias. Mas a capa vai em sentido contrário, às vezes até vendendo ilusões”, afirma. Utilizando o telão do auditório, ela passou a exibir algumas capas de revistas semanais sobre células-tronco. A primeira foi uma capa da revista Veja, que estampava a imagem de duas crianças, filhas da atriz Luisa Thomé, e trazia a seguinte mensagem: Estes bebês são pioneiros de uma revolução da medicina. Ao nascer eles tiveram armazenadas células-tronco, terapia que já está sendo usada para tratar doenças como diabetes, infarto, derrame, Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla. “As células-tronco até agora são uma promessa, mas revolução de fato ainda não dá para afirmar”, disse. “E, além disso, essa idéia de congelar as células do cordão para uso dos filhos é algo bastante discutível, porque a probabilidade de que essas células sejam úteis para as próprias crianças é bem baixa”, afirmou.

Em seguida, apresentou uma capa publicada por Época, de sua autoria, com uma imagem do músico Herbert Viana numa cadeira de rodas e as chamadas Células da vida. Perspectivas: como os embriões podem gerar tratamentos para males cardíacos, paralisia, diabetes, câncer, Alzheimer. Em que estágio estão os estudos sobre cada doença. Congresso: quem é a favor e quem se opõe. “Essa capa repercutiu muito porque foi publicada num momento político importante. Depois ganhou um prêmio de jornalismo, foi considerada bem-sucedida. O conteúdo está completo, mas sempre que olho para ela fico pensando: será que as células-tronco são a esperança?”, perguntou. “Tudo bem, entendo que elas são a esperança das pessoas retratadas, mas até que ponto contribui com essa capa para gerar falsas esperanças em outras pessoas? Será que o Herbert Viana e as outras pessoas vão assistir a algum avanço que possa ser útil para eles? Porque a gente sabe que até hoje não existe nenhum estudo clínico realizado com células de embrião, em nenhum país do mundo”, disse. Cristiane seguiu comentando outras capas, como uma da revista IstoÉ publicada na mesma semana em que o STF aprovou as pesquisas no Brasil. A capa exibia a imagem de uma menina e a chamada Células-tronco, nova chance de vida. Júlia, 10 anos, e mais uma centena de outros pacientes poderão ser os primeiros beneficiados pelas terapias com células-tronco embrionárias, finalmente liberadas no Brasil. “Será mesmo?”, perguntou a jornalista . “Já tem uma terapia prontinha para ser testada? Ela vai se curar? De novo eu acho que tem um exagero”, disse Cristiane, que, ao final, apresentou uma outra capa de Veja com a chamada Tratamentos com células-tronco no Brasil, a medicina que faz milagres. “Aí eu acho que eles jogaram pesado, porque não tem milagre. A medicina nunca faz milagre”, disse.

Liberdade
Cristiane Segatto ponderou que sua intenção, ao apresentar as capas, não era desqualificar o trabalho da imprensa. “Eu quis mostrar isso tudo até para fazer uma espécie de mea culpa aqui e para mostrar que a imprensa cometeu sim seus excessos. Mas eu não queria deixar uma mensagem pessimista, pois acho que a imprensa, embora possa ter errado em alguns aspectos, deu uma colaboração valorosa para o debate sobre as pesquisas com embriões no Brasil”, afirmou. Segundo ela, foram escritos artigos e reportagens muito bons, muito esclarecedores, com argumentos muito bem alinhavados. “A imprensa contribuiu sim para a educação da sociedade. E não podia ser de outra forma, porque o que estava em jogo lá no STF era a liberdade da expressão científica e o direito que os casais têm de dar o destino que julguem melhor a esses embriões congelados. A imprensa contribuiu muito para a defesa dessas liberdades fundamentais e por isso acho que ajudou a fazer história. Nunca antes o STF havia promovido uma audiência pública para discutir qualquer assunto que estivesse em pauta”, diz, referindo-se à iniciativa do ministro Ayres Britto de ouvir a opinião de cientistas, pacientes, religiosos e especialistas em bioética. “Com a exposição desse tema das células-tronco na mídia, o STF decidiu ouvir a sociedade e isso foi bom. A decisão do STF reiterou a separação entre Igreja e Estado e é muito importante que essa discussão tenha sido suscitada por um tema da ciência”, disse, para concluir: “Eu não sei se as células-tronco embrionárias vão dar origem a algum tratamento. Acho que só daqui a uns 20 anos a gente vai poder olhar para trás e ver o que era perspectiva real e o que era fantasia. Torço pelos pacientes, fico extremamente sensibilizada pela garra, pela força deles, mas não sei se terão de fato uma nova chance de vida. O que sei é que, com essas pesquisas, o Brasil vai ganhar um patrimônio inestimável, que é o conhecimento. Com seus erros e acertos, a imprensa pode se orgulhar de ter contribuído para isso”, afirmou.

Mayana Zatz concordou com o diagnóstico de Cristiane. Explicou que levou ao plenário do STF pacientes que esperam beneficiar-se de tratamentos criados a partir de células-tronco embrionárias. Mas ressaltou que todos eles sabem do estágio ainda inicial das pesquisas. “Eles sabem que não há tratamentos, mas tentativas terapêuticas com células-tronco adultas, não as embrionárias”, disse a geneticista. “Não se sabe se um dia as células-tronco embrionárias resultarão em tratamentos, mas se aposta que a pesquisa poderá resultar em avanços do conhecimento, cujo impacto hoje nem sequer podemos imaginar”, afirmou Mayana.

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