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Boas práticas

Memorando coercitivo

Universidade saudita exigia que seus pesquisadores citassem trabalhos de colegas em artigos científicos

Um memorando interno enviado a docentes da Universidade Príncipe Sultan (PSU), em Riad, da Arábia Saudita, expôs uma estratégia para ampliar a visibilidade da instituição que flerta com a má conduta: o reitor Ahmed Yaman exigia que cada pesquisador citasse nas referências de cada um de seus trabalhos científicos de 3 a 4 artigos de colegas da própria universidade, a fim de “aumentar a visibilidade das pesquisas da Universidade Príncipe Sultan e o número total de citações da instituição”.

Revelado pelo site Retraction Watch, o memorando é datado de 2022 e previa uma exceção: caso não houvesse nenhum trabalho relevante de pesquisadores da universidade relacionado ao tema do artigo, não seria necessário cumprir a norma. Mas pedia boa vontade aos professores: “Instamos os membros do corpo docente a cooperarem para aumentar as citações e o impacto da PSU”. Procurada pelo Retraction Watch, a universidade não quis se pronunciar sobre a norma.

De acordo com Ludo Waltman, especialista em avaliação de pesquisadores da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, a exceção estabelecida no memorando faz com que a prática não possa ser classificada estritamente como “citação coercitiva”, que é um tipo de má conduta. “Mas, na prática, o memorando exerce forte pressão sobre os pesquisadores para que citem trabalhos da própria universidade, o que se aproxima muito da coerção”, disse ele ao Retraction Watch. Ele explicou que essa modalidade de manipulação de citações é uma prática disseminada. “A escolha de citações com base em critérios políticos, em vez de sua relevância, não é específica de determinados países nem de regiões. Pesquisadores do mundo todo adotam essa prática, geralmente de forma mais sutil e sem políticas explícitas que a exijam.”

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