De um lado, na escola, a criança usa um código abreviado em sua escritura inicial, para construir seu discurso, pelo fato de ainda não ter domínio do sistema de escrita. De outro lado, nos chats informais da internet, os adolescentes usam abreviações e alongamentos semelhantes à forma da escrita escolar inicial, como recursos para a construção de um novo gênero textual. “Parece tratar-se de uma nova forma de escrita, tanto como tecnologia quanto como processo discursivo escrito, embora com marcas discursivas semelhantes às da conversação face a face oral”, descreve o artigo A construção/apropriação da escrita nas salas de aula da escola fundamental e nas salas de bate-papo na internet, de Sérgio Roberto Costa, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora. O trabalho analisa tais fenômenos de modo a explicar as possíveis semelhanças e diferenças dos dados coletados em circunstâncias e espaços enunciativos diversos, o que pode contribuir com a compreensão dos processos cognitivos de apropriação e uso da escrita por crianças e adolescentes, destacando-se como esses fenômenos se aproximam ou divergem. Embora ocorram em espaços e tempos diferentes, o escolar inicial de crianças na faixa de 7 anos, aprendendo a escrever, e o ciberespacial, de adolescentes entre 12 e 17 anos, já com mestria da escrita, discurso e linguagem são objetos de reflexão e análise por parte das crianças e dos adolescentes, ou seja, a escrita transforma o discurso dos sujeitos em objeto da atenção e da consciência. “Nesse sentido, tanto o escritor iniciante, na escola, quanto o adolescente, no ciberespaço, criam um novo modelo para pensar sobre a fala e a linguagem como atividade consciente numa perspectiva em que a escrita não é uma mera transcrição do discurso”, explica Costa. “Eles se apropriam de uma ferramenta cultural e intelectual que lhes dá recursos para produzir coisas novas, isto é, criar novos sistemas representativos e simbólicos da cultura em que estão inseridos.”
Delta: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada – vol. 22 – nº 1 – São Paulo – 2006
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