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Maurício N. Frota

Metrologia é vida

A ciência da medição é também a da competitividade

O cidadão do mundo contemporâneo tem seu destino atrelado a números e medidas. Exposto às exigências naturais das sociedades de consumo, talvez nem se aperceba de que por trás do “peso correto e da medida exata” subjaz um trabalho notável das sociedades técnico-científicas, que desempenham um papel fundamental no progresso das ciências e no amplo processo de desenvolvimento econômico e social que visam ao bem comum. Esse cidadão talvez nem saiba que o simples fato de aceitar ou questionar resultados de medições no curso de sua vida torna-o parceiro natural dessas organizações técnico-científicas.

Assim ocorre quando da necessidade de verificação da febre do filho; da dosagem físico-química de propriedades e características do sangue humano; do tempo de exposição à radioterapia; da indicação do fiel das balanças mais rudimentares que viabilizam o comércio; da tarifação do consumo de serviços básicos e essenciais, como os de fornecimento de água, energia, telefone; bem como das inúmeras outras circunstâncias em que a medição afeta direta ou indiretamente o bolso, o trabalho, a vida.

Nesse contexto, pode-se afirmar que as sociedades técnico-científicas estão a serviço da humanização da função dos números, da discussão conceitual sobre sua validação, o que se verifica pela sua preocupação em quantificar para qualificar. Qualificar produtos e processos para a existência do cidadão; para a vida, portanto. Utilizar a metrologia para medir a qualidade do ar, da água, dos alimentos, dos medicamentos, dos produtos de consumo básicos, do meio ambiente citadino e rural e de tudo o que interfira direta ou indiretamente na vida do cidadão é consolidar a ciência e a tecnologia como instrumentos políticos da reforma social segura e responsável.

Inúmeros são os benefícios para a sociedade gerados pelas sociedades científicas. A própria “descrição factual” do hoje já incorporado conceito de physical quantity, formulado por James Clerk Maxwell (1873) em seu Treatise on electricity and magnetism, surgiu para fundamentar a formulação axiomática de uma nova álgebra (quantity calculus) capaz de correlacionar “unidades de medida” e “grandeza física”, à época conceito de impasse e polêmica no fórum das sociedades científicas. Foi esse fundamento básico, que inter-relaciona expressões matemáticas e incorpora a regularidade experimental das leis físicas, que permitiu a Helmholtz formular a teoria das medições fundamentado em trabalhos anteriores de notáveis físicos e matemáticos, permitindo-lhe postular que as possibilidades de realização de medições empíricas diretas são consideradas propriedade essencial da própria grandeza física.

No campo da ciência das medições, fortaleceram-se os fóruns científicos e tecnológicos interessados em, finalmente, criar um sistema universal de unidades de medida, agregando não apenas os campos da mecânica e da eletricidade, mas incorporando os fenômenos térmicos, a termodinâmica, a fotometria, a radiometria e a química. Essa pode ser considerada a estratégia mais decisiva que viabilizou a integração das ciências, culminando com o entendimento universal da metrologia como ciência das medições ou como ciência da competitividade pela importância da technia como elemento de superação de barreiras técnicas impeditivas ao desenvolvimento do comércio internacional.

Maurício N. Frota, da PUC-RJ, é Presidente da Sociedade Brasileira de Metrologia

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