Morreu nesta segunda-feira (10/07), aos 80 anos, Ecléa Bosi, professora titular e emérita de psicologia social do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e uma das principais estudiosas brasileiras da condição de grupos sociais fragilizados, como operárias de baixa renda e idosos. Ecléa foi idealizadora, desenvolvedora e coordenadora do programa Universidade Aberta à Terceira Idade da USP de 1994, quando foi criado, até o final de 2016. Em pouco mais de duas décadas, a iniciativa permitiu que mais de 100 mil idosos fossem à universidade, cursassem disciplinas de graduação e, em atividades complementares, como seminários, palestras e excursões, trocassem informações e experiências com os jovens. Hoje o programa atende anualmente mais de 9 mil pessoas acima de 60 anos.
Nascida em São Paulo em 1936, Ecléa formou-se em psicologia na USP. Fez mestrado e doutorado na mesma instituição. Publicou uma série de livros. Cultura de massas e cultura popular: leituras de operárias (Vozes, 1996) traz sua pesquisa de campo sobre leituras de operárias em que a autora interpreta a cultura popular como uma cultura de resistência. Memória e sociedade: lembranças de velhos (Companhia das Letras, 1994) foi resultado de sua tese de livre-docência e apresenta uma reflexão sobre a história da cidade de São Paulo a partir da memória social de idosos que viveram na cidade desde a infância e participaram de sua construção. Escreveu também Velhos amigos (Companhia das Letras, 2003) e O tempo vivo da memória (Ateliê, 2003), entre outros.
“Ecléa Bosi foi um exemplo de erudição colocada a serviço das grandes causas da humanidade. Tanto quanto seu marido, Alfredo Bosi, colocou-se ela como referência e contraponto diante da arrogância, dos dogmatismos, dos jargões e da soberba”, escreveu em 2013 o psicólogo Paulo de Salles Oliveira, professor titular do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho no Instituto de Psicologia da USP, na Revista USP. “Mesmo aposentada, fazia questão de lecionar também na graduação e era reconhecida por seus alunos por isso.”
Ecléa teve dois filhos, Viviana e José Alfredo. Recebeu diversos prêmios ao longo de sua carreira, como o Internacional Ars Latina, em 2009, pelo conjunto da obra, e o Averroes, em 2011, pelos estudos sobre memória e sociedade, pioneirismo e espírito compartilhador expressados na trajetória do programa Universidade Aberta à Terceira Idade. No mesmo ano, foi laureada com o Loba Romana, entregue a italianos e descendentes que se destacaram pela atuação social, econômica e cultural e contribuíram para o estreitamento das relações entre Brasil e Itália.
Leia entrevista concedida à Pesquisa FAPESP em 2014:
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