Considerado um dos três principais críticos do teatro moderno no Brasil, ao lado de Décio de Almeida Prado (1917-2000) e Bárbara Heliodora (1923-2015), Sábato Magaldi morreu na quinta-feira (14/7) em São Paulo, aos 89 anos, em decorrência de infecção generalizada. Suas cinzas serão levadas ao mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro. Magaldi, que escreveu cerca de 20 livros sobre o teatro brasileiro, ocupava desde 1995 a cadeira 24 da ABL.
O crítico nasceu em Belo Horizonte, onde se formou em direito. Aos 21 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a publicar críticas de teatro no Diário Carioca. Em 1953, transferiu-se para São Paulo para lecionar na Escola de Arte Dramática (EAD) – incorporada à Universidade de São Paulo (USP) em 1969 –, a convite de seu fundador, Alfredo Mesquita. Três anos depois, tornou-se redator do Suplemento Literário do jornal O Estado de S.Paulo, então muito influente culturalmente, no qual escreviam intelectuais como Almeida Prado, Paulo Emilio Salles Gomes e Antonio Candido. Magaldi trabalhou no suplemento até 1969, já acumulando a função de crítico de teatro do Jornal da Tarde, que ocupou desde sua fundação, em 1966, até 1988.
Na EAD, Magaldi foi contratado para a cadeira de História de Teatro e, em 1962, criou a de Teatro Brasileiro. Entre suas obras em livro, o crítico escreveu Panorama do teatro brasileiro (1962), até hoje uma referência na área, e organizou as peças de Nelson Rodrigues por temas em quatro volumes. Magaldi era amigo do dramaturgo e foi um dos responsáveis por destacá-lo como o fundador do teatro moderno no Brasil. No Panorama também reafirmou e fundamentou a importância do teatro de Oswald de Andrade.
Em 1988, publicou Moderna dramaturgia brasileira, no qual deu continuidade ao trabalho histórico, tratando agora de dramaturgos e espetáculos mais recentes. Na reedição do Panorama de 1997, acrescentou dois capítulos para reparar o que considerou equívocos cometidos anteriormente: a omissão do dramaturgo gaúcho Qorpo-Santo e as restrições a aspectos “melodramáticos” da obra de Nelson Rodrigues, opinião que reviu.
“Sábato Magaldi foi um pioneiro nos estudos teatrais brasileiros, tanto na constituição de um corpus crítico sobre nossa produção dramática moderna – estabelecendo os cânones dos dramaturgos Oswald de Andrade, Nelson Rodrigues e Plínio Marcos – como no exercício do pensamento crítico”, afirma Luiz Fernando Ramos, professor do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. “Exerceu a militância cotidiana nos jornais e publicou ensaios e análises de largo fôlego, alguns inclusive voltados à própria crítica.”
De acordo com depoimentos de atores, autores de peças e outros críticos, Magaldi era muitas vezes interlocutor de criadores teatrais, mas primou por um padrão de distanciamento ético que não os poupava, se julgasse necessário, de críticas severas. Uma das polêmicas mais conhecidas da qual participou, via páginas de jornais, foi com o encenador José Celso Martinez Correa por causa de uma crítica ao espetáculo Gracias, señor, em 1972.
Magaldi doutorou-se na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP em 1972, com tese sobre Oswald de Andrade, e fez livre-docência em 1983 na ECA-USP, sobre o teatro de Nelson Rodrigues. De 1985 a 1987, lecionou na Universidade de Paris III (Nouvelle Sorbonne). Em 1988, tornou-se professor titular de Teatro Brasileiro no Departamento de Artes Cênicas da ECA. De 1989 a 1991, deu aulas na Universidade de Aix-en-Provence, França. Entre 1975 e 1979, foi o primeiro secretário municipal da Cultura da cidade de São Paulo, na gestão do prefeito nomeado Olavo Setúbal.
Outros livros importantes que escreveu foram Nelson Rodrigues – Dramaturgia e encenações (1987) e O texto no teatro (1989), além de Amor ao teatro – Sábato Magaldi (2015), compilação de artigos publicados na imprensa organizada pela escritora Edla Van Steen, sua viúva. Deixa ainda cerca de 50 cadernos escritos à mão, com anotações sobre o teatro brasileiro que conheceu durante sua trajetória de crítico. Sua recomendação teria sido que sejam publicados apenas 30 anos depois de sua morte.
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