Oswaldo Luiz Alves morreu sábado (10/07), aos 73 anos, vítima de infarto. Professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde fundou o Laboratório de Química do Estado Sólido, em 1985, Alves formou mais de 50 mestres e doutores, muitos dos quais são, hoje, líderes de pesquisa destacados no cenário nacional e internacional.
Ele foi um dos primeiros entre os pesquisadores brasileiros a desenvolver atividades na área de nanotecnologia, tendo coordenado o Laboratório de Síntese de Nanoestruturas e Interação com Biossistemas (NanoBioss/SisNano). Publicou mais de 250 artigos em periódicos científicos e teve depositadas 31 patentes de processos e aplicações, algumas internacionais, incluindo uma tecnologia voltada à remediação de efluentes de indústrias papeleiras e têxteis, que foi licenciada para o setor produtivo.
Alves era um dos pesquisadores do Projeto Temático FAPESP sobre Materiais Complexos Funcionais (Inomat), no âmbito dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), e foi coordenador do projeto FAPESP que financiou a construção da primeira linha de EXAFS (XAS), no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas.
“O professor Oswaldo Alves foi um cientista exemplar que deixou sua marca na ciência brasileira e mundial. Acima de tudo um ser humano digno e ético que sempre valorizou a importância da ciência e da cultura na formação do ser humano. Nos últimos meses, teve participação ativa na organização da série Conferências FAPESP 60 anos. Deixará saudades e fará falta!”, disse Ronaldo Pilli, vice-presidente da FAPESP.
Alves foi membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), entidade que presidiu entre 1998 e 2000, integrou o Conselho Científico do Instituto Serrapilheira e foi editor do boletim semanal de notícias LQES News – voltado ao desenvolvimento da ciência, tecnologia, inovação e nanotecnologias – e do Nano em Foco – editado em parceria com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial –, com uma linha editorial ligada a produtos comerciais, riscos e regulação da nanotecnologia.
“Ele foi um cientista brilhante com contribuições importantes não apenas como cientista, mas também como disseminador de ciência”, afirmou Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP.
Por suas contribuições à comunidade química brasileira foi agraciado com a medalha Simão Mathias (2004) e o Prêmio de Inovação Tecnológica (2008), ambos conferidos pela Sociedade Brasileira de Química. Recebeu, ainda, a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico (2002) e o prêmio Cientista do Ano (2016), conferido pela Nanocell, na modalidade de nanotecnologia.
Em nota, foi homenageado pela reitoria da Unicamp: “A perda desse ilustre professor e pesquisador deixa um grande vácuo no cenário da ciência brasileira. A reitoria da Unicamp, em nome da toda a comunidade, manifesta os seus sentimentos à família pela perda irreparável.”
Nascido em São Paulo, Alves concluiu o curso técnico em química industrial em 1967. Trabalhou por um curto período na Bayer do Brasil antes de fazer o bacharelado e o doutorado em química na Unicamp. O pós-doutorado ele fez na França, no Laboratório de Espectroquímica de Infravermelho e Raman, no Centro Nacional de Pesquisa Científica (LASIR-CNRS).
O interesse pela ciência, no entanto, manifestou-se muito antes, quando ele ainda era aluno de escola pública e participava de clubes de ciências no bairro de Perdizes. “Tínhamos um pequeno laboratório com materiais doados por um dos bisnetos do cientista Vital Brazil, onde fizemos muitas experiências de química e biologia”, ele contou em entrevista ao site da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat), em 2015.
Antes mesmo de cursar química industrial, Alves fez um estágio no Instituto Biológico, no qual trabalhou com espectroscopia no infravermelho e polarografia aplicadas à indústria. Quando ingressou na Unicamp, obteve uma bolsa de iniciação científica da FAPESP para pesquisa com compostos de terras-raras.
Concluída a graduação, foi contratado como docente ao mesmo tempo em que iniciava o doutorado direto, com uma pesquisa sobre aplicação da espectroscopia vibracional em complexos moleculares. Em 1979, na França, deixou-se “contaminar”, como ele dizia, pela química do estado sólido dentro da perspectiva de materiais. “Ao retornar ao Brasil vimos a oportunidade de fundar o LQES”, contou à SBPMat.
Ao logo de uma carreira considerada brilhante por seus pares, Alves desenvolveu pesquisas com vidros dopados com quantum dots e vidros para óptica não linear, técnicas de síntese de vários materiais bidimensionais e sua química de intercalação, sistemas químicos, purificação de nanotubos de carbono, interação de novos carbonos com biossistemas e nanopartículas de sílica com funcionalização antagônica para drug delivery, entre outras.
“A carreira científica é fascinante, sobretudo nos tempos em que vivemos, onde a quebra de paradigmas ocorrem amiúde”, afirmou Alves na entrevista à SBPMat. E recomendou: “Sempre que possível, devemos procurar um equilíbrio entre atitudes de pesquisa paper oriented e knowledge oriented e, sobretudo, não nos esquecermos de fazer uma segunda leitura de nossos resultados de pesquisa buscando, assim, examinar sua possível conexão com as necessidades do cidadão brasileiro e do desenvolvimento nacional.”
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
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