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Boas práticas

Mudança de rota

Fundação Gates vai obrigar pesquisadores a publicarem seus resultados de pesquisa em repositórios de preprints

A Fundação Bill & Melinda Gates anunciou mudanças na política de publicação dos estudos científicos que patrocina. A partir de 2025, pesquisadores financiados pela instituição serão obrigados a publicar seus resultados em repositórios de preprints – o preprint é uma versão preliminar de um artigo científico cujo conteúdo ainda não foi avaliado e validado por especialistas. Um dos objetivos é acelerar a disseminação do conhecimento, em um tipo de estratégia que ganhou fôlego durante a pandemia, quando havia urgência na difusão de estudos sobre a Covid-19.

Mas a nova política busca promover mudanças mais profundas na comunicação da ciência. Também em 2025, a fundação deixará de financiar taxas de processamento de artigos (APC), cobradas por revistas científicas para publicar estudos e disponibilizá-los em acesso aberto na internet. Pelas regras que vigoram desde 2015, a instituição obrigava os pesquisadores a partilharem instantaneamente resultados de pesquisa em revistas de acesso aberto, mas bancava o pagamento das taxas. No ano passado, gastou US$ 6 milhões para publicar mais de 4 mil artigos cujo conteúdo ajudou a financiar. O orçamento da fundação em 2024 é de US$ 8,6 bilhões.

No esquema idealizado pela fundação, todos os resultados de pesquisa ficarão rapidamente disponíveis nos repositórios de preprints e os autores selecionarão apenas seus melhores trabalhos para submeter a revistas científicas com revisão por pares, já que não terão recursos garantidos para isso. Uma outra opção para os autores seria o modelo de acesso aberto diamante, em que não há cobrança de taxas nem para eles nem para os leitores – revistas desse tipo são financiadas por agências de fomento ou sociedades científicas.

Ashley Farley, líder das políticas de acesso aberto da Fundação Gates, disse à revista Nature que a mudança busca garantir acesso imediato às pesquisas e permitir o compartilhamento de seus resultados de forma global e equânime. Os pesquisadores financiados pela instituição deverão publicar os preprints sob uma licença que permite a reutilização do seu conteúdo. Segundo Farley, a fundação deverá elaborar uma lista de repositórios de preprints recomendados, com bons padrões de verificação da validade científica de conteúdos apresentados. Ela discorda da ideia de que a publicação de pesquisas ainda não revisadas por pares vá levar à divulgação de resultados equivocados. Na sua avaliação, há evidências crescentes de que os erros nas primeiras versões dos preprints são resolvidos rapidamente, uma vez que há um conjunto cada vez mais amplo de pesquisadores que leem os manuscritos e sugerem mudanças.

Em uma sessão de perguntas e respostas on-line sobre a nova política, a fundação informou que outro de seus propósitos é reduzir os incentivos ao modelo de negócios das APC, que ganhou expressão com o avanço das políticas de acesso aberto nos últimos anos, mas que tem sido acusado de estimular a disseminação de artigos de valor limitado e é adotado pelas chamadas revistas predatórias, que aceitam divulgar papers apenas em troca de dinheiro, sem submetê-los a uma revisão por pares genuína.

A Fundação Bill & Melinda Gates é uma das signatárias do consórcio da Coalition S, rede de agências de fomento e organizações filantrópicas de apoio à ciência que há cinco anos criou o Plano S, iniciativa liderada por organizações financiadoras de pesquisa que foi responsável por ampliar a quantidade de publicações científicas acessíveis a leitores sem a cobrança de taxas ou assinaturas. Recentemente, o consórcio propôs mudanças no modelo da comunicação cientifica para criar alternativas à publicação em revistas revisadas por pares – uma das ideias é estimular o uso de preprints e criar iniciativas nas quais comunidades de pesquisadores revisam e recomendam preprints em suas áreas (ver Pesquisa FAPESP nº 336). Johan Rooryck, diretor executivo da Coalition S, disse à Nature que a proposta da fundação “não está inteiramente alinhada” com as ideias do consórcio. “A Fundação Gates é claramente da opinião de que a pré-impressão é suficiente”, disse. Segundo ele, os membros do consórcio estão examinando o papel dos preprints no acesso aberto, mas ainda não conseguiram tomar uma posição conjunta. Da mesma forma, a ideia de abolir o pagamento das APC está longe de ser consensual.

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